Período Colonial
A colonização de São Paulo começou em 1532 quando, em 21 de janeiro, Martim Afonso de Souza fundou a povoação que iria transformar-se na Vila de São Vicente, uma das mais antigas do Brasil e a mais remota da Colônia. Dando continuidade à exploração da terra e em busca de novos gentios a evangelizar, no cumprimento da missão que os trouxera ao Novo Mundo, um grupo de jesuítas, do qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalou a serra do mar chegando ao planalto de Piratininga, onde encontraram, segundo cartas enviadas a Portugal, "uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, que facilitava a defesa contra ataques de índios hostis. Nesse lugar, fundaram um colégio em 25 de janeiro de 1554, ao redor do qual se iniciou a construção das primeiras casas de taipa, que dariam origem ao povoado de São Paulo de Piratininga. Em 1560, o povoado ganhou foros de vila.
No início, São Paulo vivia da agricultura de subsistência, aprisionando índios para trabalharem como escravos na frustrada tentativa de implantação em escala da lavoura de cana-de-açúcar. Mas o sonho já era então a descoberta do ouro e dos metais preciosos. Assim, na segunda metade do século começariam as viagens de reconhecimento ao interior do país, as "bandeiras", expedições organizadas para aprisionar índios e procurar pedras e metais preciosos nos sertões distantes, dando início ao desbravamento das Minas Gerais. Em 1681, São Paulo foi considerada cabeça da Capitania, que incluía então um território muito mais vasto que o do atual Estado. Embora em 1711 a vila tenha sido elevada à categoria de cidade, o próprio êxito do empreendimento bandeirante fez que a Coroa desmembrasse a capitania, para ter controle exclusivo sobre a região das Minas. Por isso, ao longo de todo o século XVIII, São Paulo continuava sendo apenas o quartel-general de onde não cessavam de partir as "bandeiras", responsáveis pela ampliação do território brasileiro a sul e a sudoeste muito além da linha de Tordesilhas, na proporção direta do extermínio das nações indígenas que colocavam resistência a esse empreendimento. Disso tudo resultou a proverbial pobreza da província de São Paulo na época colonial, carente de uma atividade econômica lucrativa como a do cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste, contando sobretudo com a mão-de-obra do indígena e desfalcada de seus homens válidos, que partiam para o sertão a redesenhar as fronteiras do Brasil.
Durante os três primeiros séculos de colonização, o número de índios e mamelucos superou em muito o de europeus. Até meados do século XVIII, predominava entre a população uma "língua geral" de base tupi-guarani, sendo essa língua franca a mais falada em toda a região. No período da união das coroas ibéricas, entre 1580 e 1640, estima-se que o espanhol fosse a segunda língua da vila de São Paulo. Após a Independência, em 1822, os africanos representavam algo em torno de 25% da população, e, os mulatos, mais de 40%. Era já então insignificante a presença de índios nas zonas ocupadas pela colonização, e em especial nas lavouras de açúcar, implantadas com êxito no litoral norte e na região entre Itu e Sorocaba. Assim, a grande virada da economia paulista só aconteceria na passagem do século XVIII para o XIX, quando as plantações de café começaram a substituir as de cana-de-açúcar e a se preparar para ocupar o primeiro plano na economia nacional.
Império
O fim da Colônia se antecipa, no próprio período colonial, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, fugindo ao avanço das tropas napoleônicas. D. João VI deu então início a uma série de reformas que, da arquitetura ao ensino superior, da civilidade urbana aos empreendimentos artísticos, deveriam adequar o país para sediar o Vice-Reinado que abrigava a Coroa portuguesa, e que de fato preparariam sua independência. São Paulo também se beneficiaria em muito dessas transformações. Foi em território paulista que, em 7 de setembro de 1822, o herdeiro do trono português, o príncipe Dom Pedro, declarou a Independência do Brasil, sendo aclamado Imperador com o título de Dom Pedro I. Com sua renúncia nos anos 30, em meio à agitação política contra o domínio português, seguiu-se o conturbado período da Regência que, na segunda metade do século, com a ascensão ao trono de D. Pedro II, cederia lugar a um período de inusitado desenvolvimento e prosperidade do país, sobretudo após a consolidação da agricultura cafeeira como o principal produto de exportação brasileiro.
Foi nessa época que São Paulo passou a assumir uma posição de destaque no cenário nacional, com o avanço dos cafezais, que encontraram na terra roxa do norte da província o solo ideal. A expansão da cultura do café exigiu a multiplicação das estradas de ferro, iniciando-se então (1860-1861) em Santos e São Paulo os trabalhos da construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, a São Paulo Railway, responsável pelo primeiro trem a ligar as duas cidades. Esse foi um período de grandes transformações, marcado pela crise do sistema escravocrata, que levaria à Abolição em 1888 e que daria lugar, entre outros fatos, à chegada em massa de imigrantes, principal alternativa de solução ao problema da mão-de-obra na lavoura cafeeira.
São Paulo prosperou muito nessa época e a capital da província passou por uma verdadeira revolução urbanística, resultado da necessidade de transformar uma cidade acanhada, pouco mais que um entreposto comercial, em capital da nova elite econômica que se impunha. Em meados de 1860, a cidade de São Paulo já era bem diferente da antiga cidade colonial. Os primeiros lampiões de rua queimavam óleo de mamona ou de baleia e a cidade já contava com um parque público, o Jardim da Luz, que passaria por extensas reformas no final do século. Nesse período, à medida que a cidade se expandia em todas as direções, consolidava-se também um núcleo urbano moderno em torno de alguns marcos simbólicos, como a Estação da São Paulo Railway e o Jardim da Luz. Ao seu redor instalaram-se bairros residenciais de elite - os Campos Elíseos -, com seus bulevares ao estilo parisiense, como a avenida Tiradentes. Mas as estradas de ferro também permitiram que surgissem novos bairros populares ao lado da Estação da São Paulo Railway, como o Bom Retiro e o Brás, cujo povoamento foi reforçado pela instalação, nas proximidades, da Hospedaria dos Imigrantes. Também os edifícios públicos multiplicaram-se: assembléia, câmara, fórum, escolas, quartéis, cadeias, abrigos para crianças desamparadas. Dezenas de igrejas, conventos e mosteiros ainda continuavam, como nos tempos coloniais, a espalhar-se por toda parte. Na área cultural artistas de circo, atores de teatro, poetas e cantores começaram a consolidar seu lugar na cidade, junto com o primeiro jornal periódico.
Mas as transformações no período também assumiram outras facetas. A chegada de milhares de imigrantes, além de resolver o problema da mão-de-obra da lavoura cafeeira, permitiu maior ocupação do interior do Estado. Criaram-se as condições necessárias para que pequenas fábricas, subsidiárias do café, dessem os primeiros passos em direção à industrialização. Com o interior já integrado ao cenário do rápido crescimento da província, começou haver a preocupação com a construção de novas estradas, prevendo-se a interiorização dos cafezais e a prosperidade que seria sacramentada com a República.
República
O fim do Império já estava selado quando foi declarada a Abolição da Escravidão em 1888. A perda de apoio das elites conservadoras, agravada pelas fricções do imperador com a Igreja, na chamada "Questão religiosa", e a crise no Exército após a guerra do Paraguai, origem da "Questão militar", determinariam a queda de Dom Pedro II. Assim, ele seria deposto por um movimento militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 1889. Teve início então o primeiro período republicano no Brasil. Até 1930, a República é controlada pelas oligarquias agrárias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A importância econômica do café produzido em São Paulo e do gado de Minas Gerais sustenta a "política do café-com-leite", em que paulistas e mineiros se alternam na presidência da República. Na verdade, São Paulo apenas mantinha o poder que conquistara com a consolidação das novas bases econômicas do país nas últimas décadas do Império. A ferrovia puxava a expansão da cafeicultura, atraía imigrantes e permitia a colonização de novas áreas, enquanto nas cidades a industrialização avançava, criava novos contornos urbanos e abria espaço para novas classes sociais, o operariado e a classe média. Mais próspero do que nunca, e agora um Estado de verdade dentro da Federação, São Paulo via surgir a cada dia uma novidade diferente: a eletricidade substituía o lampião a gás; chegavam os primeiros carros (o primeiro de todos pertenceu ao pai de Santos Dumont, em 1891); cresciam as linhas de bondes elétricos; construíam-se na capital grandes obras urbanas, entre elas, o Viaduto do Chá e a Avenida Paulista.
A singularidade desse período está na forma intensa com que tudo se multiplica, desde a imigração, que no campo sustenta a cafeicultura, até o desenvolvimento das cidades, que levam São Paulo a perder suas feições de província e tornar-se a economia mais dinâmica do país. Todo o Estado paulista se transforma. Santos, Jundiaí, Itu, Campinas e diversas outras vilas passam a conviver com o apito das fábricas e com uma nova classe operária. As greves e as "badernas de rua" tornam-se assunto cotidiano dos boletins policiais, ao mesmo tempo que começa a saltar aos olhos a precariedade da infra-estrutura urbana, exigida pela industrialização. Um dos graves problemas passou a ser a geração de energia, centro de atenção das autoridades estaduais. Já em 1900, fora inaugurada a Light, empresa canadense e principal responsável pelo setor em São Paulo até 1970. O Estado passou a ter uma significativa capacidade de geração de energia, o que foi decisivo para o grande desenvolvimento industrial verificado entre 1930 e 1940. Nessa nova conjuntura, mais de uma dezena de pequenas hidrelétricas começaram a ser construídas, principalmente com capital estrangeiro.
Nesse período da Primeira República, a aristocracia cafeeira paulista vive o seu apogeu. Mas a Revolução de 1930 coloca fim à liderança da oligarquia cafeeira, trazendo para o primeiro plano os Estados menores da Federação, sob a liderança do Rio Grande do Sul de Getúlio Vargas. As oligarquias paulistas ainda promovem, contra o movimento de 1930, a Revolução Constitucionalista em 1932, mas são derrotadas, apesar da pujança econômica demonstrada pelo Estado de São Paulo.
Em 1930, os trilhos de suas ferrovias chegavam às proximidades do rio Paraná e a colonização ocupava mais de um terço do Estado. As cidades se multiplicavam. Socialmente, o Estado, com seus mais de um milhão de imigrantes, tornou-se uma torre de Babel, profundamente marcado pelas diferentes culturas trazidas de mais de 60 países. Mas na última década da República Velha, o modelo econômico e político que sustentava o predomínio de São Paulo mostrava seu esgotamento. Após a Revolução de 1930, o país viveu um período de instabilidade que favoreceu a instalação da ditadura de Getúlio Vargas, período de oito anos que terminou juntamente com a Segunda Guerra Mundial, que abriu um período de redemocratização e a instalação da chamada Segunda República.
Entretanto, no plano econômico, o café superou a crise por que passou no início da década de 1930 e foi estimulado por bons preços durante a guerra, favorecendo a recuperação de São Paulo. Mas, agora, era a vez da indústria despontar, impulsionada, entre outros motivos, pelos capitais deslocados da lavoura. Logo, outro grande salto seria dado, com a chegada da indústria automobilística em São Paulo, carro-chefe da economia nacional desde a década de 1950. A partir daí, o Estado paulista se transformou no maior parque industrial do país, posição que continuou a manter, apesar das transformações econômicas e políticas vividas pelo Brasil.
A pobreza dos tempos coloniais jamais levaria a imaginar a pujança e o dinamismo econômico, social e cultural, que são característicos de São Paulo. Quem construiu toda essa riqueza?
Em primeiro lugar, o que se poderia chamar de "espírito bandeirante" de São Paulo. O que é notável desde os primeiros tempos coloniais é que, num território inóspito, uma população escassa de colonos portugueses intensamente misturada à populações indígenas nativas e, mais tarde, aos escravos africanos - para formar este mundo de mamelucos, cafuzos e mulatos da capitania e depois província colonial - fosse capaz, movida pelo gosto da aventura e pela ambição, de sustentar um empreendimento de vulto e tão arrojado como a organização das "bandeiras", que resultariam na redefinição do território nacional em suas fronteiras atuais. É essa população cabocla, essencialmente mestiça, que manteve por três séculos a cultura tradicional paulista, a cultura "caipira" encontrada ainda no interior do Estado.
Mas engana-se quem vê nessa cultura uma forma de "atraso". Feita de lealdade mesclada a uma sossegada e manhosa astúcia, esta é uma cultura de homens e mulheres que sempre souberam tirar proveito das circunstâncias, como instrumento de sua própria sobrevivência, nas condições de penúria proverbial que sempre foram, até o século XIX, as da província paulista. É sobre essa cultura tradicional que vem se enxertar, na segunda metade do século XX, a imigração, que imprimiria à vida de São Paulo seu dinamismo insuperável.
Qual é a base da mistura cultural do paulista? A resposta correta é: o Mundo! Afinal, no início da imigração, homens e mulheres de mais de 60 países se estabeleceram em São Paulo, em busca de oportunidades. Eles aqui foram acolhidos porque a província paulista necessitava de mão-de-obra para a lavoura cafeeira e, hoje, estima-se que São Paulo seja a terceira maior cidade italiana do mundo, a maior cidade japonesa fora do Japão, a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da Espanha. A mistura de raças, etnias e culturas se acentuou com o correr do tempo e marcou profundamente a vida cultural, social e econômica da cidade.
O final do século XIX e início do século XX marcaram um período de transformações mundiais. Guerras e revoluções resultavam em desemprego e fome na Europa. Populações inteiras rumavam para longe de suas terras, buscando refúgio às perseguições étnicas, políticas e religiosas. As informações da existência de uma terra nova e cheia de oportunidades chegavam em além-mar. Havia portanto mais que os portugueses, aqui presentes desde o Descobrimento, os negros africanos, obrigados a cruzar o Atlântico como escravos, e os índios, a atrair para a colonização do Brasil.
Numa prudente política migratória, os monarcas brasileiros trataram de atrair novos imigrantes, oferecendo lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Depois, com a Abolição da Escravatura em 1888, a opção foi a imigração em massa para substituir o trabalho escravo. Os imigrantes eram embarcados na terceira classe dos navios e vinham instalados nos porões dos vapores, onde a superlotação e as precárias condições favoreciam a proliferação de doenças, de modo não muito distinto dos antigos navios negreiros. A diferença era que, agora, já não se tratava de transportar escravos para o Brasil. Muitos imigrantes morreram pelo trajeto. Da Europa até o porto de Santos, a viagem demorava até 30 dias. O governo, apoiando a importação da mão-de-obra, recebia-os em alojamentos provisórios.
A partir 1887, passaram pelo complexo da Hospedaria do Imigrante www.memorialdoimigrante.sp.gov.br, em São Paulo, perto de 3 milhões de pessoas. A Hospedaria tinha alojamentos, refeitórios, berçário, enfermaria e hospital. O conjunto abrigava a Agência Oficial de Colonização e Trabalho, responsável pelo encaminhamento das famílias para as lavouras no interior. A partir de 1930 a Hospedaria passa a atender também ao movimento migratório interno. Trabalhadores vindos de outros Estados do Brasil são recebidos e atendidos.
Hoje , o complexo abriga o Museu da Imigração que reconstitui a saga dos imigrantes e presta uma justa homenagem àqueles heróis anônimos que ajudaram a construir o Estado paulista. Na virada do século o imigrante constituía o grosso do operariado paulista. Em 1901 o Estado contava com cerca de 50 mil industriários. Menos de 10% eram brasileiros. A maioria absoluta era de italianos, seguidos de portugueses, espanhóis, alemães e poloneses, entre outros. Cada imigrante tinha um bom motivo para se aventurar nessa, então, terra desconhecida mas cheia de esperança.
Os Portugueses
Responsáveis pelo descobrimento da "nova terra", os portugueses vieram para o Brasil desde os primeiros tempos.
Mesclando-se aqui às populações indígenas e, depois, aos escravos africanos, vieram a constituir o cerne desta cultura mestiça que entendemos como brasileira.
Após a Independência e ao longo do século XIX, as dificuldades que viviam em Portugal, sobretudo graças à pobreza do país, que sucessivamente perdia seus territórios de ultramar e se envolvia em novas guerras coloniais, fez que os portugueses fossem novamente atraídos para o Brasil, sendo a afinidade da língua um atrativo a mais para a imigração, que continuou durante todo o século XX.
Esses imigrantes atuaram em várias áreas, mas foi sobretudo no comércio que a colônia portuguesa se destacou.
Os Espanhóis
A presença espanhola no Brasil é muito antiga. Porém, a grande onda migratória de milhares de espanhóis acontece no final do século XVIII para o trabalho na lavoura de café. Nesta época chegam os andaluzes e, num segundo momento, os catalães, bascos e valencianos.
Os espanhóis foram os que mais se concentraram no Estado paulista. O censo de 1920 revelou que 78% dos espanhóis residiam em São Paulo.
Os Italianos
A imigração em massa italiana começou a ocorrer pouco depois da unificação da Itália, em 1871. A primeira grande leva de imigrantes foi destinada às fazendas de lavoura de café no interior do estado paulista. Junto com os espanhóis, os italianos substituíram os negros nas plantações. Com promessa de lote de terra e bons salários, logo os imigrantes começaram a se decepcionar com a realidade que encontravam. Muitos partiram das fazendas para o centro da cidade e começaram a trabalhar nas fábricas e no comércio.
Os primeiros grandes industriais de São Paulo - os Matarazzo, os Crespi - constituíram o grupo dos "condes italianos", só perdendo o título décadas depois. A marca desse povo não ficou somente na economia. Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões em que se fixaram. O macarrão, a pizza e o vinho foram rapidamente assimilados e adotados pelo paulista.
Os Japoneses
Foi em 1908 que os primeiros japoneses chegaram ao Brasil. Isso foi possível graças a um esquema de imigração subsidiada. Na época, ainda carente de mão-de-obra, o Brasil estava encontrando dificuldade com o governo da Itália para a imigração de italianos.
Os japoneses concentraram-se no Estado de São Paulo. Inicialmente foram destinados às fazendas de café, mas aos poucos tornaram-se pequenos e médios proprietários rurais. Diferente de outros imigrantes que, com o passar dos anos, iam trocando a zona rural pela cidade, grande parte dos imigrantes japoneses permaneceu nas atividades rurais e diversificaram a produção dos hortifrutigranjeiros.
Os Alemães
Logo após a Independência do Brasil, os primeiros imigrantes alemães começaram a chegar em solo brasileiro. Ao longo de mais de 100 anos entraram no Brasil mais de 250 mil imigrantes. Comparado ao número de italianos e japoneses, a vinda de alemães, principalmente para o Estado de São Paulo, é considerada pequena. Será nos anos 30, em decorrência das perseguições nazistas na Alemanha, que o fluxo de imigrantes vai aumentar de forma considerável.
Em São Paulo, os alemães, judeus em sua maioria, vão se fixar em bairros étnicos, como o Bom Retiro e Santo Amaro. A colônia concentrou-se nas atividades comerciais e industriais.
Os Migrantes
Para entender melhor os contrastes e o emaranhado de culturas que povoam o Estado de São Paulo não dá para deixar de falar da migração. Aqui o turista mais desavisado se surpreende com a estranha união do feijão-de-corda com o pão-de-queijo que, por sua vez, convivem em total harmonia com o forró e a música sertaneja. Tudo isso regado a um bom churrasco com chimarrão. É possível encontrar em São Paulo cada pedacinho do Brasil com seus sotaques e culinárias dos mais variados. Afinal, o Estado de São Paulo se transformou num dos mais importantes pólos de atração de fluxos migratórios. O rápido desenvolvimento da região, a oportunidade de emprego e o sonho de uma vida melhor fizeram dessa terra o que é hoje: uma Torre de Babel. Em estatística feita em 1959 constatou-se que o processo migratório para São Paulo começou em 1901. Naquele primeiro ano, o registro de entrada de nacionais no Estado de São Paulo apontou 1.434 pessoas. No mesmo período, o número de estrangeiros aportados em São Paulo foi de 70.348 pessoas. Foi em 1923 que teve início a intensificação do fluxo de nordestinos, mineiros e fluminenses para São Paulo.
Em 1935, o governo de Armando Salles de Oliveira decidiu estimular a migração para São Paulo, com o objetivo de suprir a lavoura de mão-de-obra. Por iniciativa daquele governo foi estipulada, pelo sistema de contratos com companhias particulares, a introdução de trabalhadores mediante a seguinte subvenção: pagamento de passagem, bagagem e um pequeno salário para a família. As firmas contratadas pelo governo para trazer trabalhadores de outros Estados passaram a operar com afinco no Nordeste do país e no Norte do Estado de Minas Gerais. Em 1939 o Departamento de Imigração e Colonização foi reorganizado e criou-se a Inspetoria de Trabalhadores Migrantes com a finalidade de substituir as firmas particulares no serviço de migração subsidiada. Quando as famílias chegavam a São Paulo eram recebidas na Hospedaria do Imigrante e daí distribuídas pelo Estado. Com o estímulo dado pelo governo, as entradas passaram a ser maciças, atingindo em 1939 a casa dos 100 mil.
Durante o período de 1941 a 1949 só o Departamento de Imigração e Colonização de São Paulo encaminhou à lavoura do Estado 399.937 trabalhadores procedentes de outros Estados do Brasil. Nesta época, na Europa acontecia a II Guerra Mundial e a imigração de europeus reduziu drasticamente. Os 12 municípios que maior número de migrantes receberam (399.927) foram Presidente Prudente, Rancharia, Marília, Martinópolis, Andradina, Presidente Venceslau, Santo Anastácio, Pompéia, Valparaiso, Araçatuba e Presidente Bernardes. Mas foi nas décadas de 1950 e 1960 que se verifica a efetiva industrialização do Estado e a conseqüente abertura de um mercado de trabalho de dimensões amplas, uma vez que o processo de crescimento industrial, por seus efeitos multiplicadores levou também a uma substancial ampliação do setor terciário. A migração em 1950 apresentava o seguinte quadro: Minas Gerais contribuiu com quase 50% do fluxo. A Bahia é o Estado que mais contribuiu depois de Minas Gerais, com 17,56% do fluxo. Somente estes dois Estados representavam 65,04% do fluxo. Migrantes de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí representavam menos de 15%.
O fato de Minas Gerais ser um Estado vizinho de São Paulo, é um motivo a mais a determinar o grande fluxo migratório. O aumento do peso da migração vinda do Nordeste é em grande parte devido às secas que atingiram a região na década de 1950. Outro fator determinante foi a conclusão da Estrada Rio-Bahia em 1949, o que veio facilitar bastante essa migração. Foi por esta rodovia que surgiu o "pau-de-arara", transporte de migrantes feito por caminhões de carga, precariamente adaptados para o transporte de seres humanos. Os migrantes se espalharam por todo o Estado, mas a Região Metropolitana de São Paulo apresentou-se como a mais importante área de atração populacional do Estado, tendo as migrações contribuído com 56,6% do crescimento da população da região no período 1960-1970.
O aparecimento do complexo industrial da Região da Grande São Paulo deu-se sobretudo a partir da Segunda-Guerra Mundial, e de forma mais acentuada durante e após a década de 1950, quando o processo de substituição de importações surgiu como um dos fatores principais do desenvolvimento industrial da região.
Com o passar dos anos, a migração foi diminuindo. Nos anos 60, chegavam à cidade 128 mil migrantes por ano, a partir de 1980 a média anual caiu para 68 mil, segundo dados do Seade.
Por causa dessa miscigenação, hoje, passear por São Paulo é conhecer todas as tradições. O bairro do Brás, por exemplo, antigo reduto de italianos, é ocupado hoje em sua maioria por migrantes nordestinos. Já a cidade de Carapicuíba registra 70% de migrantes entre nortistas e nordestinos. No município de Embu, os gaúchos realizam festas com acordeão e rabeca e, claro, churrasco. Sem falar de toda a tradição do mobiliário rústico e artesanal.
A parte gastronômica é outro capítulo. Por causa da migração, é possível comer em São Paulo qualquer doce feito com a fruta mais exótica da Amazônia, um bom acarajé preparado por uma baiana autêntica, aquele doce de leite com queijo mineiro ou mesmo encontrar uma boa erva-mate para o preparo do chimarrão. Ou ainda comer leitão à pururuca, vaca atolada, galinha ao molho pardo, moquecas com jeitão capixaba, buchada de carneiro, costelinha de porco com canjiquinha e angu, arroz de cuxá do Maranhão, sopa de goma de mandioca com camarão seco do Belém do Pará ou ainda a combinação de tucupi e jambu. O difícil é enumerar todas as opções.
Seja fugindo da seca ou em busca do sonho de uma vida melhor e do melhor centro educacional do País, enfim, cada um que chegou em São Paulo tinha um motivo. Porém, todos adotaram essa terra como seu lar e essa terra, em contrapartida, recebeu não só complexos problemas urbanos mas, principalmente, ganhou a força do trabalho de uma gente com muita determinação e, acima de tudo, com a infinita riqueza de várias culturas.
Fonte: Site Oficial do Governo Estadual
A colonização de São Paulo começou em 1532 quando, em 21 de janeiro, Martim Afonso de Souza fundou a povoação que iria transformar-se na Vila de São Vicente, uma das mais antigas do Brasil e a mais remota da Colônia. Dando continuidade à exploração da terra e em busca de novos gentios a evangelizar, no cumprimento da missão que os trouxera ao Novo Mundo, um grupo de jesuítas, do qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalou a serra do mar chegando ao planalto de Piratininga, onde encontraram, segundo cartas enviadas a Portugal, "uma terra mui sadia, fresca e de boas águas". Do ponto de vista da segurança, a localização topográfica de São Paulo era perfeita: situava-se numa colina alta e plana, que facilitava a defesa contra ataques de índios hostis. Nesse lugar, fundaram um colégio em 25 de janeiro de 1554, ao redor do qual se iniciou a construção das primeiras casas de taipa, que dariam origem ao povoado de São Paulo de Piratininga. Em 1560, o povoado ganhou foros de vila.
No início, São Paulo vivia da agricultura de subsistência, aprisionando índios para trabalharem como escravos na frustrada tentativa de implantação em escala da lavoura de cana-de-açúcar. Mas o sonho já era então a descoberta do ouro e dos metais preciosos. Assim, na segunda metade do século começariam as viagens de reconhecimento ao interior do país, as "bandeiras", expedições organizadas para aprisionar índios e procurar pedras e metais preciosos nos sertões distantes, dando início ao desbravamento das Minas Gerais. Em 1681, São Paulo foi considerada cabeça da Capitania, que incluía então um território muito mais vasto que o do atual Estado. Embora em 1711 a vila tenha sido elevada à categoria de cidade, o próprio êxito do empreendimento bandeirante fez que a Coroa desmembrasse a capitania, para ter controle exclusivo sobre a região das Minas. Por isso, ao longo de todo o século XVIII, São Paulo continuava sendo apenas o quartel-general de onde não cessavam de partir as "bandeiras", responsáveis pela ampliação do território brasileiro a sul e a sudoeste muito além da linha de Tordesilhas, na proporção direta do extermínio das nações indígenas que colocavam resistência a esse empreendimento. Disso tudo resultou a proverbial pobreza da província de São Paulo na época colonial, carente de uma atividade econômica lucrativa como a do cultivo da cana-de-açúcar no Nordeste, contando sobretudo com a mão-de-obra do indígena e desfalcada de seus homens válidos, que partiam para o sertão a redesenhar as fronteiras do Brasil.
Durante os três primeiros séculos de colonização, o número de índios e mamelucos superou em muito o de europeus. Até meados do século XVIII, predominava entre a população uma "língua geral" de base tupi-guarani, sendo essa língua franca a mais falada em toda a região. No período da união das coroas ibéricas, entre 1580 e 1640, estima-se que o espanhol fosse a segunda língua da vila de São Paulo. Após a Independência, em 1822, os africanos representavam algo em torno de 25% da população, e, os mulatos, mais de 40%. Era já então insignificante a presença de índios nas zonas ocupadas pela colonização, e em especial nas lavouras de açúcar, implantadas com êxito no litoral norte e na região entre Itu e Sorocaba. Assim, a grande virada da economia paulista só aconteceria na passagem do século XVIII para o XIX, quando as plantações de café começaram a substituir as de cana-de-açúcar e a se preparar para ocupar o primeiro plano na economia nacional.
Império
O fim da Colônia se antecipa, no próprio período colonial, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, fugindo ao avanço das tropas napoleônicas. D. João VI deu então início a uma série de reformas que, da arquitetura ao ensino superior, da civilidade urbana aos empreendimentos artísticos, deveriam adequar o país para sediar o Vice-Reinado que abrigava a Coroa portuguesa, e que de fato preparariam sua independência. São Paulo também se beneficiaria em muito dessas transformações. Foi em território paulista que, em 7 de setembro de 1822, o herdeiro do trono português, o príncipe Dom Pedro, declarou a Independência do Brasil, sendo aclamado Imperador com o título de Dom Pedro I. Com sua renúncia nos anos 30, em meio à agitação política contra o domínio português, seguiu-se o conturbado período da Regência que, na segunda metade do século, com a ascensão ao trono de D. Pedro II, cederia lugar a um período de inusitado desenvolvimento e prosperidade do país, sobretudo após a consolidação da agricultura cafeeira como o principal produto de exportação brasileiro.
Foi nessa época que São Paulo passou a assumir uma posição de destaque no cenário nacional, com o avanço dos cafezais, que encontraram na terra roxa do norte da província o solo ideal. A expansão da cultura do café exigiu a multiplicação das estradas de ferro, iniciando-se então (1860-1861) em Santos e São Paulo os trabalhos da construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, a São Paulo Railway, responsável pelo primeiro trem a ligar as duas cidades. Esse foi um período de grandes transformações, marcado pela crise do sistema escravocrata, que levaria à Abolição em 1888 e que daria lugar, entre outros fatos, à chegada em massa de imigrantes, principal alternativa de solução ao problema da mão-de-obra na lavoura cafeeira.
São Paulo prosperou muito nessa época e a capital da província passou por uma verdadeira revolução urbanística, resultado da necessidade de transformar uma cidade acanhada, pouco mais que um entreposto comercial, em capital da nova elite econômica que se impunha. Em meados de 1860, a cidade de São Paulo já era bem diferente da antiga cidade colonial. Os primeiros lampiões de rua queimavam óleo de mamona ou de baleia e a cidade já contava com um parque público, o Jardim da Luz, que passaria por extensas reformas no final do século. Nesse período, à medida que a cidade se expandia em todas as direções, consolidava-se também um núcleo urbano moderno em torno de alguns marcos simbólicos, como a Estação da São Paulo Railway e o Jardim da Luz. Ao seu redor instalaram-se bairros residenciais de elite - os Campos Elíseos -, com seus bulevares ao estilo parisiense, como a avenida Tiradentes. Mas as estradas de ferro também permitiram que surgissem novos bairros populares ao lado da Estação da São Paulo Railway, como o Bom Retiro e o Brás, cujo povoamento foi reforçado pela instalação, nas proximidades, da Hospedaria dos Imigrantes. Também os edifícios públicos multiplicaram-se: assembléia, câmara, fórum, escolas, quartéis, cadeias, abrigos para crianças desamparadas. Dezenas de igrejas, conventos e mosteiros ainda continuavam, como nos tempos coloniais, a espalhar-se por toda parte. Na área cultural artistas de circo, atores de teatro, poetas e cantores começaram a consolidar seu lugar na cidade, junto com o primeiro jornal periódico.
Mas as transformações no período também assumiram outras facetas. A chegada de milhares de imigrantes, além de resolver o problema da mão-de-obra da lavoura cafeeira, permitiu maior ocupação do interior do Estado. Criaram-se as condições necessárias para que pequenas fábricas, subsidiárias do café, dessem os primeiros passos em direção à industrialização. Com o interior já integrado ao cenário do rápido crescimento da província, começou haver a preocupação com a construção de novas estradas, prevendo-se a interiorização dos cafezais e a prosperidade que seria sacramentada com a República.
República
O fim do Império já estava selado quando foi declarada a Abolição da Escravidão em 1888. A perda de apoio das elites conservadoras, agravada pelas fricções do imperador com a Igreja, na chamada "Questão religiosa", e a crise no Exército após a guerra do Paraguai, origem da "Questão militar", determinariam a queda de Dom Pedro II. Assim, ele seria deposto por um movimento militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca em 1889. Teve início então o primeiro período republicano no Brasil. Até 1930, a República é controlada pelas oligarquias agrárias de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A importância econômica do café produzido em São Paulo e do gado de Minas Gerais sustenta a "política do café-com-leite", em que paulistas e mineiros se alternam na presidência da República. Na verdade, São Paulo apenas mantinha o poder que conquistara com a consolidação das novas bases econômicas do país nas últimas décadas do Império. A ferrovia puxava a expansão da cafeicultura, atraía imigrantes e permitia a colonização de novas áreas, enquanto nas cidades a industrialização avançava, criava novos contornos urbanos e abria espaço para novas classes sociais, o operariado e a classe média. Mais próspero do que nunca, e agora um Estado de verdade dentro da Federação, São Paulo via surgir a cada dia uma novidade diferente: a eletricidade substituía o lampião a gás; chegavam os primeiros carros (o primeiro de todos pertenceu ao pai de Santos Dumont, em 1891); cresciam as linhas de bondes elétricos; construíam-se na capital grandes obras urbanas, entre elas, o Viaduto do Chá e a Avenida Paulista.
A singularidade desse período está na forma intensa com que tudo se multiplica, desde a imigração, que no campo sustenta a cafeicultura, até o desenvolvimento das cidades, que levam São Paulo a perder suas feições de província e tornar-se a economia mais dinâmica do país. Todo o Estado paulista se transforma. Santos, Jundiaí, Itu, Campinas e diversas outras vilas passam a conviver com o apito das fábricas e com uma nova classe operária. As greves e as "badernas de rua" tornam-se assunto cotidiano dos boletins policiais, ao mesmo tempo que começa a saltar aos olhos a precariedade da infra-estrutura urbana, exigida pela industrialização. Um dos graves problemas passou a ser a geração de energia, centro de atenção das autoridades estaduais. Já em 1900, fora inaugurada a Light, empresa canadense e principal responsável pelo setor em São Paulo até 1970. O Estado passou a ter uma significativa capacidade de geração de energia, o que foi decisivo para o grande desenvolvimento industrial verificado entre 1930 e 1940. Nessa nova conjuntura, mais de uma dezena de pequenas hidrelétricas começaram a ser construídas, principalmente com capital estrangeiro.
Nesse período da Primeira República, a aristocracia cafeeira paulista vive o seu apogeu. Mas a Revolução de 1930 coloca fim à liderança da oligarquia cafeeira, trazendo para o primeiro plano os Estados menores da Federação, sob a liderança do Rio Grande do Sul de Getúlio Vargas. As oligarquias paulistas ainda promovem, contra o movimento de 1930, a Revolução Constitucionalista em 1932, mas são derrotadas, apesar da pujança econômica demonstrada pelo Estado de São Paulo.
Em 1930, os trilhos de suas ferrovias chegavam às proximidades do rio Paraná e a colonização ocupava mais de um terço do Estado. As cidades se multiplicavam. Socialmente, o Estado, com seus mais de um milhão de imigrantes, tornou-se uma torre de Babel, profundamente marcado pelas diferentes culturas trazidas de mais de 60 países. Mas na última década da República Velha, o modelo econômico e político que sustentava o predomínio de São Paulo mostrava seu esgotamento. Após a Revolução de 1930, o país viveu um período de instabilidade que favoreceu a instalação da ditadura de Getúlio Vargas, período de oito anos que terminou juntamente com a Segunda Guerra Mundial, que abriu um período de redemocratização e a instalação da chamada Segunda República.
Entretanto, no plano econômico, o café superou a crise por que passou no início da década de 1930 e foi estimulado por bons preços durante a guerra, favorecendo a recuperação de São Paulo. Mas, agora, era a vez da indústria despontar, impulsionada, entre outros motivos, pelos capitais deslocados da lavoura. Logo, outro grande salto seria dado, com a chegada da indústria automobilística em São Paulo, carro-chefe da economia nacional desde a década de 1950. A partir daí, o Estado paulista se transformou no maior parque industrial do país, posição que continuou a manter, apesar das transformações econômicas e políticas vividas pelo Brasil.
A pobreza dos tempos coloniais jamais levaria a imaginar a pujança e o dinamismo econômico, social e cultural, que são característicos de São Paulo. Quem construiu toda essa riqueza?
Em primeiro lugar, o que se poderia chamar de "espírito bandeirante" de São Paulo. O que é notável desde os primeiros tempos coloniais é que, num território inóspito, uma população escassa de colonos portugueses intensamente misturada à populações indígenas nativas e, mais tarde, aos escravos africanos - para formar este mundo de mamelucos, cafuzos e mulatos da capitania e depois província colonial - fosse capaz, movida pelo gosto da aventura e pela ambição, de sustentar um empreendimento de vulto e tão arrojado como a organização das "bandeiras", que resultariam na redefinição do território nacional em suas fronteiras atuais. É essa população cabocla, essencialmente mestiça, que manteve por três séculos a cultura tradicional paulista, a cultura "caipira" encontrada ainda no interior do Estado.
Mas engana-se quem vê nessa cultura uma forma de "atraso". Feita de lealdade mesclada a uma sossegada e manhosa astúcia, esta é uma cultura de homens e mulheres que sempre souberam tirar proveito das circunstâncias, como instrumento de sua própria sobrevivência, nas condições de penúria proverbial que sempre foram, até o século XIX, as da província paulista. É sobre essa cultura tradicional que vem se enxertar, na segunda metade do século XX, a imigração, que imprimiria à vida de São Paulo seu dinamismo insuperável.
Qual é a base da mistura cultural do paulista? A resposta correta é: o Mundo! Afinal, no início da imigração, homens e mulheres de mais de 60 países se estabeleceram em São Paulo, em busca de oportunidades. Eles aqui foram acolhidos porque a província paulista necessitava de mão-de-obra para a lavoura cafeeira e, hoje, estima-se que São Paulo seja a terceira maior cidade italiana do mundo, a maior cidade japonesa fora do Japão, a terceira maior cidade libanesa fora do Líbano, a maior cidade portuguesa fora de Portugal e a maior cidade espanhola fora da Espanha. A mistura de raças, etnias e culturas se acentuou com o correr do tempo e marcou profundamente a vida cultural, social e econômica da cidade.
O final do século XIX e início do século XX marcaram um período de transformações mundiais. Guerras e revoluções resultavam em desemprego e fome na Europa. Populações inteiras rumavam para longe de suas terras, buscando refúgio às perseguições étnicas, políticas e religiosas. As informações da existência de uma terra nova e cheia de oportunidades chegavam em além-mar. Havia portanto mais que os portugueses, aqui presentes desde o Descobrimento, os negros africanos, obrigados a cruzar o Atlântico como escravos, e os índios, a atrair para a colonização do Brasil.
Numa prudente política migratória, os monarcas brasileiros trataram de atrair novos imigrantes, oferecendo lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Depois, com a Abolição da Escravatura em 1888, a opção foi a imigração em massa para substituir o trabalho escravo. Os imigrantes eram embarcados na terceira classe dos navios e vinham instalados nos porões dos vapores, onde a superlotação e as precárias condições favoreciam a proliferação de doenças, de modo não muito distinto dos antigos navios negreiros. A diferença era que, agora, já não se tratava de transportar escravos para o Brasil. Muitos imigrantes morreram pelo trajeto. Da Europa até o porto de Santos, a viagem demorava até 30 dias. O governo, apoiando a importação da mão-de-obra, recebia-os em alojamentos provisórios.
A partir 1887, passaram pelo complexo da Hospedaria do Imigrante www.memorialdoimigrante.sp.gov.br, em São Paulo, perto de 3 milhões de pessoas. A Hospedaria tinha alojamentos, refeitórios, berçário, enfermaria e hospital. O conjunto abrigava a Agência Oficial de Colonização e Trabalho, responsável pelo encaminhamento das famílias para as lavouras no interior. A partir de 1930 a Hospedaria passa a atender também ao movimento migratório interno. Trabalhadores vindos de outros Estados do Brasil são recebidos e atendidos.
Hoje , o complexo abriga o Museu da Imigração que reconstitui a saga dos imigrantes e presta uma justa homenagem àqueles heróis anônimos que ajudaram a construir o Estado paulista. Na virada do século o imigrante constituía o grosso do operariado paulista. Em 1901 o Estado contava com cerca de 50 mil industriários. Menos de 10% eram brasileiros. A maioria absoluta era de italianos, seguidos de portugueses, espanhóis, alemães e poloneses, entre outros. Cada imigrante tinha um bom motivo para se aventurar nessa, então, terra desconhecida mas cheia de esperança.
Os Portugueses
Responsáveis pelo descobrimento da "nova terra", os portugueses vieram para o Brasil desde os primeiros tempos.
Mesclando-se aqui às populações indígenas e, depois, aos escravos africanos, vieram a constituir o cerne desta cultura mestiça que entendemos como brasileira.
Após a Independência e ao longo do século XIX, as dificuldades que viviam em Portugal, sobretudo graças à pobreza do país, que sucessivamente perdia seus territórios de ultramar e se envolvia em novas guerras coloniais, fez que os portugueses fossem novamente atraídos para o Brasil, sendo a afinidade da língua um atrativo a mais para a imigração, que continuou durante todo o século XX.
Esses imigrantes atuaram em várias áreas, mas foi sobretudo no comércio que a colônia portuguesa se destacou.
Os Espanhóis
A presença espanhola no Brasil é muito antiga. Porém, a grande onda migratória de milhares de espanhóis acontece no final do século XVIII para o trabalho na lavoura de café. Nesta época chegam os andaluzes e, num segundo momento, os catalães, bascos e valencianos.
Os espanhóis foram os que mais se concentraram no Estado paulista. O censo de 1920 revelou que 78% dos espanhóis residiam em São Paulo.
Os Italianos
A imigração em massa italiana começou a ocorrer pouco depois da unificação da Itália, em 1871. A primeira grande leva de imigrantes foi destinada às fazendas de lavoura de café no interior do estado paulista. Junto com os espanhóis, os italianos substituíram os negros nas plantações. Com promessa de lote de terra e bons salários, logo os imigrantes começaram a se decepcionar com a realidade que encontravam. Muitos partiram das fazendas para o centro da cidade e começaram a trabalhar nas fábricas e no comércio.
Os primeiros grandes industriais de São Paulo - os Matarazzo, os Crespi - constituíram o grupo dos "condes italianos", só perdendo o título décadas depois. A marca desse povo não ficou somente na economia. Os imigrantes italianos influenciaram fortemente os hábitos alimentares nas regiões em que se fixaram. O macarrão, a pizza e o vinho foram rapidamente assimilados e adotados pelo paulista.
Os Japoneses
Foi em 1908 que os primeiros japoneses chegaram ao Brasil. Isso foi possível graças a um esquema de imigração subsidiada. Na época, ainda carente de mão-de-obra, o Brasil estava encontrando dificuldade com o governo da Itália para a imigração de italianos.
Os japoneses concentraram-se no Estado de São Paulo. Inicialmente foram destinados às fazendas de café, mas aos poucos tornaram-se pequenos e médios proprietários rurais. Diferente de outros imigrantes que, com o passar dos anos, iam trocando a zona rural pela cidade, grande parte dos imigrantes japoneses permaneceu nas atividades rurais e diversificaram a produção dos hortifrutigranjeiros.
Os Alemães
Logo após a Independência do Brasil, os primeiros imigrantes alemães começaram a chegar em solo brasileiro. Ao longo de mais de 100 anos entraram no Brasil mais de 250 mil imigrantes. Comparado ao número de italianos e japoneses, a vinda de alemães, principalmente para o Estado de São Paulo, é considerada pequena. Será nos anos 30, em decorrência das perseguições nazistas na Alemanha, que o fluxo de imigrantes vai aumentar de forma considerável.
Em São Paulo, os alemães, judeus em sua maioria, vão se fixar em bairros étnicos, como o Bom Retiro e Santo Amaro. A colônia concentrou-se nas atividades comerciais e industriais.
Os Migrantes
Para entender melhor os contrastes e o emaranhado de culturas que povoam o Estado de São Paulo não dá para deixar de falar da migração. Aqui o turista mais desavisado se surpreende com a estranha união do feijão-de-corda com o pão-de-queijo que, por sua vez, convivem em total harmonia com o forró e a música sertaneja. Tudo isso regado a um bom churrasco com chimarrão. É possível encontrar em São Paulo cada pedacinho do Brasil com seus sotaques e culinárias dos mais variados. Afinal, o Estado de São Paulo se transformou num dos mais importantes pólos de atração de fluxos migratórios. O rápido desenvolvimento da região, a oportunidade de emprego e o sonho de uma vida melhor fizeram dessa terra o que é hoje: uma Torre de Babel. Em estatística feita em 1959 constatou-se que o processo migratório para São Paulo começou em 1901. Naquele primeiro ano, o registro de entrada de nacionais no Estado de São Paulo apontou 1.434 pessoas. No mesmo período, o número de estrangeiros aportados em São Paulo foi de 70.348 pessoas. Foi em 1923 que teve início a intensificação do fluxo de nordestinos, mineiros e fluminenses para São Paulo.
Em 1935, o governo de Armando Salles de Oliveira decidiu estimular a migração para São Paulo, com o objetivo de suprir a lavoura de mão-de-obra. Por iniciativa daquele governo foi estipulada, pelo sistema de contratos com companhias particulares, a introdução de trabalhadores mediante a seguinte subvenção: pagamento de passagem, bagagem e um pequeno salário para a família. As firmas contratadas pelo governo para trazer trabalhadores de outros Estados passaram a operar com afinco no Nordeste do país e no Norte do Estado de Minas Gerais. Em 1939 o Departamento de Imigração e Colonização foi reorganizado e criou-se a Inspetoria de Trabalhadores Migrantes com a finalidade de substituir as firmas particulares no serviço de migração subsidiada. Quando as famílias chegavam a São Paulo eram recebidas na Hospedaria do Imigrante e daí distribuídas pelo Estado. Com o estímulo dado pelo governo, as entradas passaram a ser maciças, atingindo em 1939 a casa dos 100 mil.
Durante o período de 1941 a 1949 só o Departamento de Imigração e Colonização de São Paulo encaminhou à lavoura do Estado 399.937 trabalhadores procedentes de outros Estados do Brasil. Nesta época, na Europa acontecia a II Guerra Mundial e a imigração de europeus reduziu drasticamente. Os 12 municípios que maior número de migrantes receberam (399.927) foram Presidente Prudente, Rancharia, Marília, Martinópolis, Andradina, Presidente Venceslau, Santo Anastácio, Pompéia, Valparaiso, Araçatuba e Presidente Bernardes. Mas foi nas décadas de 1950 e 1960 que se verifica a efetiva industrialização do Estado e a conseqüente abertura de um mercado de trabalho de dimensões amplas, uma vez que o processo de crescimento industrial, por seus efeitos multiplicadores levou também a uma substancial ampliação do setor terciário. A migração em 1950 apresentava o seguinte quadro: Minas Gerais contribuiu com quase 50% do fluxo. A Bahia é o Estado que mais contribuiu depois de Minas Gerais, com 17,56% do fluxo. Somente estes dois Estados representavam 65,04% do fluxo. Migrantes de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte e Piauí representavam menos de 15%.
O fato de Minas Gerais ser um Estado vizinho de São Paulo, é um motivo a mais a determinar o grande fluxo migratório. O aumento do peso da migração vinda do Nordeste é em grande parte devido às secas que atingiram a região na década de 1950. Outro fator determinante foi a conclusão da Estrada Rio-Bahia em 1949, o que veio facilitar bastante essa migração. Foi por esta rodovia que surgiu o "pau-de-arara", transporte de migrantes feito por caminhões de carga, precariamente adaptados para o transporte de seres humanos. Os migrantes se espalharam por todo o Estado, mas a Região Metropolitana de São Paulo apresentou-se como a mais importante área de atração populacional do Estado, tendo as migrações contribuído com 56,6% do crescimento da população da região no período 1960-1970.
O aparecimento do complexo industrial da Região da Grande São Paulo deu-se sobretudo a partir da Segunda-Guerra Mundial, e de forma mais acentuada durante e após a década de 1950, quando o processo de substituição de importações surgiu como um dos fatores principais do desenvolvimento industrial da região.
Com o passar dos anos, a migração foi diminuindo. Nos anos 60, chegavam à cidade 128 mil migrantes por ano, a partir de 1980 a média anual caiu para 68 mil, segundo dados do Seade.
Por causa dessa miscigenação, hoje, passear por São Paulo é conhecer todas as tradições. O bairro do Brás, por exemplo, antigo reduto de italianos, é ocupado hoje em sua maioria por migrantes nordestinos. Já a cidade de Carapicuíba registra 70% de migrantes entre nortistas e nordestinos. No município de Embu, os gaúchos realizam festas com acordeão e rabeca e, claro, churrasco. Sem falar de toda a tradição do mobiliário rústico e artesanal.
A parte gastronômica é outro capítulo. Por causa da migração, é possível comer em São Paulo qualquer doce feito com a fruta mais exótica da Amazônia, um bom acarajé preparado por uma baiana autêntica, aquele doce de leite com queijo mineiro ou mesmo encontrar uma boa erva-mate para o preparo do chimarrão. Ou ainda comer leitão à pururuca, vaca atolada, galinha ao molho pardo, moquecas com jeitão capixaba, buchada de carneiro, costelinha de porco com canjiquinha e angu, arroz de cuxá do Maranhão, sopa de goma de mandioca com camarão seco do Belém do Pará ou ainda a combinação de tucupi e jambu. O difícil é enumerar todas as opções.
Seja fugindo da seca ou em busca do sonho de uma vida melhor e do melhor centro educacional do País, enfim, cada um que chegou em São Paulo tinha um motivo. Porém, todos adotaram essa terra como seu lar e essa terra, em contrapartida, recebeu não só complexos problemas urbanos mas, principalmente, ganhou a força do trabalho de uma gente com muita determinação e, acima de tudo, com a infinita riqueza de várias culturas.
Fonte: Site Oficial do Governo Estadual
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