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MOISÉS AGRESTE E CANUDOS

Império de Belo Monte: diligências policiais foram expulsas da região do rio Vaza-Barris pelos seguidores do Conselheiro

Tensão entre o poder público e os sequazes do profeta Antônio Conselheiro no arraial de Canudos, na Bahia. O governo descarta uma invasão - pelo menos por enquanto

Barbas e cabelos em cachoeira, face escaveirada, olhar pungente. Hábito de brim azul macerado, cajado em punho, tal qual um Moisés agreste, pairando sobre o Império de Belo Monte. É Antônio Conselheiro, profeta de Quixeramobim, que desde 1893 atrai para Canudos, na região do rio Vaza-Barris, na Bahia, um séqüito de sertanejos que nele deposita a mais cega e ardorosa fé política e religiosa. Outrora visto apenas como o devaneio de um caboclo adoidarrado, o singular movimento nordestino, contudo, vem se tornando uma pontiaguda pedra no sapato da Igreja e do governo. Messiânico, o líder asceta alastra por seus seguidores uma imbatível sanha anti-republicana e o terror do fim do mundo. O Congresso Estadual da Bahia já chamou a atenção dos poderes públicos para a "parte dos sertões perturbada pelo indivíduo Antônio Conselheiro". E a tensão entre as forças do estado e os populares só tem feito aumentar: nos últimos meses, o exército de Conselheiro já bloqueou e expulsou duas diligências policiais, feito celebrado com êxtase pelos habitantes do até agora impenetrável arraial.

Moisés agreste: 'águas em sangue'

No ano passado, uma missão apostólica enviada pelo arcebispado baiano a Canudos teve de voltar às canelas quando um enxame de prosélitos cercou a casa onde estavam os três sacerdotes visitantes para dizer que não necessitavam deles para obter a salvação eterna. No retorno, o frei João Evangelista entregou às autoridades um alarmante relatório que contabilizava, excluídas as mulheres, as crianças, os velhos e os enfermos, cerca de mil homens arrojados e robustos, "armados até os dentes". Além de seus doze apóstolos, o Conselheiro vive cercado por jagunços de primeira linha, como João Abade ou Pajeú, também atraídos pelas promessas de futuro de justiça e prosperidade pós-juízo final decantada pelo profeta. Ricos, pobres, doentes, comerciantes, bandidos e até índios fazem parte da paisagem de Canudos, que, a exemplo de seu mentor, ganhou contornos lendários na região. Diz-se que lá existe um rio de leite e uma ribanceira de cuscuz.

Profecias - Ainda que arroubos de expansionismo territorial não pareçam fazer parte do vade-mécum do imperador de Belo Monte, algumas de suas previsões não soam bem aos ouvidos do governo. Para este ano, Conselheiro vaticina que "rebanhos mil correrão da praia para o sertão; então o sertão virará praia e a praia virará sertão". Para 1897, o oráculo do Nordeste prevê que "haverá muito pasto e pouco rasto, e um só pastor e um só rebanho". Em 1898, "haverá muitos chapéus e poucas cabeças"; em 1899, "ficarão as águas em sangue", e finalmente, na chegada do ano 1900, "se apagarão as luzes". Coronéis da região há tempos têm manifestado desejos de uma invasão do arraial, mas até agora não encontraram respaldo no estado - mesmo que, a portas fechadas, muitos de seus integrantes acreditem ser esta a única solução para conter Antônio Conselheiro. O governo deve saber que uma incursão armada a Canudos é matéria para um colegiado de ponta. A fidelidade e a disposição dos paladinos do profeta exigiriam de qualquer manobra militar invasora simplesmente a perfeição. Afinal, aos sequazes do Conselheiro, o fim do mundo está mesmo perto, e não haverá problema algum em antecipá-lo em um par de anos.

Fonte: Veja na História
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