Foi descoberto e registrado no cartório de Rolim de Moura, um sítio arqueológico composto de geoglifos, elevações artificiais de terra, escadas de pedra, artefatos de pedra (inclusive esmeraldas) e de cerâmica indígena, que fica numa região a 402 quilômetros de Porto Velho.
Tudo tem mais de mil anos e faz parte de um conjunto de achados que se configuram patrimônio arqueológico da humanidade. Ao revelar a existência do sitio arqueológico localizado entre Rolim de Moura, Alta Floresta do Oeste e Alto Parecis, o pesquisador, farmacêutico, bioquímico e perito criminal voluntário, Joaquim Cunha da Silva, de 53 anos, seu descobridor, alertou estudiosos, o Ministério Público e o Governo Federal sobre a necessidade de uma discussão com base científica e antropológica.
"Quero proteger isso tudo do avanço cada vez maior das queimadas e do desmatamento indiscriminado feito por tratores, para extração de madeiras, criação de áreas de pastagens e para a construção de usinas hidrelétricas", justifica ele.No documento registrado em cartório ele praticamente repetiu os dados sobre as mais recentes descobertas e fez considerações a respeito do perigo iminente da devastação. Apelou ainda à Polícia Federal e à Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e já antecipou a fatalidade, caso não sejam tomadas as devidas providências em relação à conservação dessas descobertas: "Nas áreas entre os geoglifos tem ocorrido queimadas e derrubadas com tratores, ambas com o fim de ampliação das pastagens", disse Cunha ao Ministério Público Federal.
Segundo ele, as queimadas anuais não respeitam nem as margens dos rios. "Uma nova queimada seria desastrosa, porque destruiria os geoglifos", levando-se em conta a característica peculiar destes geoglifos de Rondônia, alertou o pesquisador no termo de declaração.
Cunha alerta para a destruição de geoglifos, principalmente no entorno da Reserva Biológica do Guaporé, no distrito de Izidrolândia, em Alta Floresta do Oeste.
Assim, estão diretamente ameaçados os geoglifos dos sítios arqueológicos Pirâmide do Condor e painel da Via Láctea, ambos localizados em Alta Floresta do Oeste.
A Descoberta dos Geoglifos
Sobrevôo e expedições terrestres permitiram ao pesquisador chegar aos geoglifos por ele descritos, dentro da tese de serem evidências de que o local foi parte do Eldorado-Paititi, o lendário Reino do Gran Moxo, do povo inca.
Cunha que acompanhado por um grupo de proprietários rurais, também já percorreu toda área a pé, documentando e fotografando cada uma das evidências arqueológicas, explicou que, além da pesquisa de campo e sobrevôos, suas descobertas também se basearam em imagens do satélite CBER2 e do Google Earth.
Em todas as suas pesquisas se confirmou a existência de evidências da cultura inca, porem, dentre suas descobertas a que mais se destaca são os geoglifos, que ao contrário dos encontrados em outros locais, como Acre, Rio Grande do Sul e outros países, que foram construídos com pedras ou através de sulcos no terreno, em Rondônia os geoglifos possuem característica ímpar, pois foram elaborados utilizando-se da técnica de paisagismo vegetal, dando origem a grandes desenhos, normalmente de animais com centenas de metros, resultante do contraste provocado pela utilização de diferentes tipos de vegetação, sobre relevo (levantamento de terra ou ilha artificial), existentes no meio da mata, o que faz com que só sejam perceptíveis do alto.
Baléia e gato, supostamente é uma das marcas dos sobreviventes incas que teriam habitado a região, procedentes da Amazônia Peruana. A Baleia mede um km. A imagem de satélite foi feita por Gilberto Glowaski e georreferenciada por Cunha
O Paititi ou El Dorado é aqui
A crença de Joaquim Cunha de que o Paititi existiu em Rondônia muito antes de ser Rondônia é a cópia de um mapa do século XVII, encontrado no Museu Eclesiástico de Cuzco. Nele está descrito o "país do Paititi", possivelmente identificado como o Paraíso.
Mas esse mapa é puramente simbólico, ele reconhece. Porque não indica nomes reais de acidentes geográficos. Aponta apenas 'monte' e 'rio'. Algumas expedições em terras de Rolim de Moura, Izidrolândia, Alta Floresta do Oeste, Alto Parecis e Porto Rolim permitiram-lhe examinar os vestígios de uma parte da civilização Inca na região. "Todos os pesquisadores iam o Peru, quando a história me levou a pensar que as localidades de Paititi e Moxos estavam juntas, no Reino Gran Moxos", explica.
Se o Paititi existiu mesmo em Rondônia, já está no Google e nas centenas de fotos feitas por ele, com explicações minuciosas a respeito de coincidências com relatos feitos por pesquisadores internacionais, que já estiveram na Amazônia Peruana e talvez, também por aqui.
Uma das várias evidências do Paititi, segundo seus estudos, está no geoglifo Cabeça do Condor, inédito e nunca anteriormente fotografado ou relatado. "Na imagem da cabeça, a lhama mãe está bem visível. No contorno há o capim Peabiru. Fazem parte do conjunto de geoglifos da Via Láctea a lhama mãe, que mede cerca de um quilômetro; a cabeça do Condor, de 300 metros. Isso existe há séculos", ele explica.
Cemitério Inca
Próximo à cabeça do geoglifo da Lhama existe um cemitério arqueológico com cerâmicas e ossadas. Segundo Cunha o curral da antiga Fazenda Glovaski foi construído sobre esse local. A descoberta acidental, já que o curral surgira anteriormente à descoberta do cemitério, só foi possível por ocasião da queda de uma árvore, quando então apareceram as urnas funerárias.
Cunha lembra a importância de se conservar as áreas com vestígios da antiga civilização em território brasileiro. "Entre outras informações que comprovam o conhecimento avançado destes povos, posso citar o fato de os nativos da América já terem calendário de 365 dias há mais de dois mil anos. Eles usavam esse calendário no planejamento de suas atividades, inclusive na agricultura.”
Domesticação de plantas, especialidade indígena
"Os índios se apresentavam como especialistas na movimentação de terra – earthmovers, na denominação em inglês – e criaram um grande laboratório de domesticação de plantas na região que compreende os Andes, provavelmente nesta parte da Amazônia Brasileira também.
"É possível que a mandioca, amendoim e mesmo a goiaba, tenham sido domesticadas nesta região", comentou o pesquisador Evandro Ferreira, do Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre (Ufac). A mandioca, com certeza, conforme exame de DNA feito pela Embrapa Biotecnologia, de Brasília. O pesquisador Luiz Joaquim Castelo Branco Carvalho, estima que a planta-mãe da mandioca tenha entre 10 mil e 12 mil anos e é originária de terras bolivianas, rondonienses e acreanas.
Estudos indicam a existência, no mundo, de oito centros de domesticação e difusão de plantas que estão na base alimentar do homem. O mapa de Vavilov sugere que esta região da Amazônia foi um desses centros.
Origem da Lenda do Paititi ou El Dorado
Em 2001, o arqueólogo italiano Mario Polia descobriu o relatório do padre Andrea Lopez nos arquivos dos jesuítas em Roma. Este relatório falava acerca da misteriosa cidade de Paititi, ou talvez Eldorado – um reino perdido situado nos lados inexplorados das florestas peruanas, na região abrangida pelas densas e hostis selvas amazônicas.
Segundo esse relatório, os missionários Jesuítas daqueles tempos, liderados pelo Padre Andrea Lopez, teriam encontrado Paititi, ou Eldorado (segundo descreveram uma cidade adornado pelo ouro, prata e pedras preciosas) e pediram, então, a devida permissão ao Papa para evangelizar os seus habitantes, o que foi de pronto negado e abafado pela Igreja Católica, escondendo ainda a sua localização, de modo a "evitar uma corrida do ouro ao local, e ainda, a eventual ocorrência de uma histeria em massa". (Wikipédia)
■ Paitíti (em castelhano, Paytiti ou Paititi) ou Candire é uma cidade lendária supostamente oculta a leste dos Andes, em alguma parte da selva tropical do sudeste do Peru (Madre de Dios), nordeste da Bolivia (Beni ou Pando) ou noroeste do Brasil (Acre, Rondônia ou Mato Grosso), capital de um reino chamado Moxos (em castelhano, Mojos) ou Grande Paitíti (em castelhano, Gran Paititi), governado por um soberano conhecido como Gran Moxo, descendente de um irmão mais novo de Huáscar e Atahuallpa.
■ Outros nomes dados à cidade oculta em alguma parte do sul da Amazônia ou norte do Prata incluem Waipite, Mairubi, Enim, Ambaya, Telan, Yunculo, Conlara, Ruparupa, Picora, Linlín, Tierra dos Musus, Los Caracaraes, Tierra de los Chunchos, Chunguri, Zenú, Meta, Macatoa, Candiré, Niawa, Dodoiba e Supayurca.
■ O mito é semelhante ao de Manoa ou Eldorado, que também seria uma cidade cheia de riquezas que teria servido de refúgio a incas que escaparam da conquista espanhola, mas costuma ser localizada muito mais ao norte, entre a Colômbia e as Guianas. Os dois mitos têm origem comum no sonho de conquistadores de enriquecer repetindo a façanha de Francisco Pizarro, o conquistador dos incas, e influenciaram-se mutuamente, mas o de Paitíti associou-se, em tempos mais recentes, com a nostalgia de povos andinos pelo antigo Império Inca, ganhando conotações nativistas e associando-se ao mito de Inkarri.
Quem já procurou Paititi
Estes são alguns dos mais conhecidos exploradores que fizeram expedições em busca do Paititi: Carlos Neuenschwander Landa (Peru), médico; Juan Carlos Polentini Wester (Argentina), padre; Gregory Deyermenjian (EUA), psicólogo; Paulino Mamani (Peru), cartógrafo. Estas são as áreas exploradas, como possíveis localizações: a zona fronteiriça entre a Bolívia e o Brasil e a parte oriental do Peru, a leste do rio Vilcanota.
Para o historiador Francisco Matias, sobreviventes incas correram para a Amazônia Ocidental brasileira, na vã tentativa de fugir ao degolamento a que haviam ido condenados pelos espanhóis. "No coração da floresta amazônica, eles construíram um templo e um grande cemitério para onde os sobreviventes levavam os corpos daqueles que eram assassinados".
Ainda conforme Matias, os incas exploravam o minério de estanho (cassiterita), com o qual fabricavam seus ornamentos e peças. Ou seja: há séculos os povos, maia e inca, conheciam a técnica de produzir estanho e cobre. "Também produziam ouro, prata, bronze, rubis, esmeraldas e outras gemas preciosas, e conheciam a técnica de lapidação. Conheciam 144 elementos químicos e a técnica de embalsamar cadáveres".
Quem sabe, os vestígios encontrados entre Rolim de Moura e Alto Alegre dos Parecis evidenciem que tenha sido mesmo aqui o novo território inca, pós-massacre.
Avança estudos sobre geoglifos na Zona da Mata, em Rondônia
Rica em pedras, minérios e geoglifos, a Zona da Mata Rondoniense já não é mais desconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A presença de pesquisadores vindos de Brasília atende ao pedido do pesquisador, farmacêutico e bioquímico Joaquim Cunha da Silva, descobridor dos geoglifos, artefatos e outras evidências arqueológicas na região, cujo estudo de coordenadas, localização e georreferenciamento já foi colocado no programa Google Earth.
“Não há dúvida, isso é milenar”, afirmou o geólogo Amilcar Adamy, ao examinar admirado cada uma das peças. Em Alto Alegre dos Parecis e Santa Luzia, a mais de 500 quilômetros de Porto Velho, a equipe encontrou peças de quartzo e argila em profusão e algumas cuscuzeiras usadas há pelo menos dois mil anos. Em algumas áreas existem amostras de cobre.
Anteriormente, Cunha encontrara uma calculadora de pedra, correspondente naqueles primórdios às máquinas de somar nos escritórios de contabilidade e lojas nos anos 1950, 60 e 70. Ele brinca: “Se precisarem de provas materiais, além das que já existem, vamos continuar procurando oficinas de cobre do tempo inca; se pesquisarem, um dia ela será encontrada, com certeza”.
Trabalhando desde 1972 em Rondônia, desde a época da Companhia de Pesquisas de Recursos Minerais (CPRM), Adamy participa desse reconhecimento. “O que me preocupa é o vandalismo a cada curva dessas estradas”, disse. Com o que concordou o pesquisador do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan, Francisco Pugliese.
Mulheres das tribos Ajuru, Sakariabiá e Tupari apontaram-lhes Alta Floresta do Oeste como destino das peças arrancadas sem técnica, voluntária ou involuntariamente – resultantes da abertura de pastagens e roçados.
Não houve ainda conclusões definitivas a respeito das elevações com geoglifos batizadas de Pirâmides do Condor e da Via Láctea, no município de Alta Floresta do Oeste, tampouco dos morros, das hoakas (supostamente oráculos) e dos objetos de imensurável valor histórico existentes nesta região.
A equipe começou a sobrevoar a região agora e até o momento definiu apenas um geoglifo, num dos trechos da rodovia BR-429.
Em Alto Alegre dos Parecis a equipe visitou o paranaense Ademir Carraro, na Linha P42, num sítio agrícola, que agora é um sítio arqueológico também.
Em 2009, ao gradear as terras, muitas pedras e cerâmicas vieram à flor da terra, entre as quais um pote inteiro com ossos queimados, de procedência indígena. Posteriormente em outro local, ou seja na linha 36, descobriu uma grande vala, “Um buracão que é só cobre”, segundo ele.
Iphan espera mais evidências
O Iphan recolheu o resumo dos estudos feitos por Joaquim Cunha, fundamentado principalmente na cosmologia inca, mas ainda tem dúvidas a serem esclarecidas nas próximas pesquisas. Pugliese prometeu retornar à região em 2011 para um trabalho de campo.
Prossegue assim a expectativa a respeito da constatação de que a Zona da Mata e o Vale do Guaporé abrigavam civilizações expulsas do Peru pelos espanhóis há mais de um milênio e que aqui teriam erguido o lendário Reino Gran-Moxo, ou o Paititi.
O Iphan ainda não se ateve ao aspecto das escadarias de pedra, cuja perfeição leva a crer terem sido feitas por mãos humanas. A visita inicial à Pirâmide do Condor, por exemplo, foi feita apenas num sobrevôo com o helicóptero do Ibama. Anteriormente, acompanhado por um grupo de proprietários rurais, Cunha percorrera toda área a pé, fotografando essas escadas, que se assemelham às de Cuzco e Machu-Picchu, no Peru.
Fonte
http://emerson-city.blogspot.com
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