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REVOLTA DA “RUSGA” E A MAÇONARIA EM MATO GROSSO

O Estado de Mato Grosso esta inserido com méritos na história da Maçonaria brasileira, tanto por antiguidade, como por efetiva participação, levantando Templos á virtudes desde há tempos, e criando Lojas para contribuir com o progresso e a felicidade do gênero humano. Vamos rebuscar as poeiras do tempo, focando o segundo quarto do século XIX, quando a Maçonaria já espargia seus princípios e ensinamentos em terra mato-grossense.   

Quando da fundação do Grande Oriente Nacional Brasileiro, posteriormente chamada de “Grande Loja do Passeio”, motivado pelo local onde se instalara no Rio de Janeiro, em 1830, portanto, antes da abdicação de Dom Pedro I, tendo sido instalada somente em 24 de Junho de 1831, a Loja Razão de Cuiabá foi uma das signatárias no evento, seu delegado estivera presente á instalação do Grande Oriente Nacional Brasileiro.

Quando da reinstalação do Grande Oriente Brasílico, ou Brasiliano fechado em Outubro de 1822 pelo seu Grão-Mestre e Imperador do Brasil, Dom Pedro I, com o nome de Grande Oriente do Brasil em 23 de Novembro de 1831, a Loja Razão sai da obediência do Grande Oriente Nacional Brasileiro e adere ao Grande Oriente do Brasil, sendo a quarta a fazê-lo, as anteriores foram “União”, “Vigilância da Pátria” e “Sete de Abril”. 


Para que melhor possamos mensurar a importância maçônico-histórico destes fatos e datas, diremos que a primeira Loja maçônica fundada na cidade de São Paulo, foi a Loja “Amizade”, em 13 de Maio de 1832, a segunda na Província de São Paulo, haja vista que a primeira foi a Loja “Inteligência”, na cidade de Porto Feliz, fundada em 19 de agosto de 1831.

A Rusga
A história da Loja Razão se funde ao movimento nativista “Rusga” em Cuiabá. Para não cometermos equívocos na exposição deste movimento, vamos nos socorrer com um dos baluartes da cultura mato-grossense, o Dr. Lenine de Campos Póvoas, que nos narra esse momento histórico em seu livro “História Geral de Mato Grosso”

“Governo de Antonio Corrêa da Costa – A RUSGA - Para substituir José Saturnino da Costa Pereira, que fora eleito para a lista tríplice e escolhido por Dom Pedro I para representar Mato Grosso no Senado do Império, foi nomeado, já pela Regência Interina, o Dr. Antonio Corrêa da Costa, o primeiro mato-grossense elevado á Presidência da Província, que tomou posse a 21 de Julho de 1831.

O fato de maior relevância ocorrido durante o seu governo foi o movimento nativista conhecido em nossa história como a “Rusga”. A instabilidade política nacional, nascida das lutas pela independência e que tinha também raízes econômicas e sociais teve reflexos em Mato Grosso. Estouraram sedições no Pará e no Rio Grande do Sul; lavrava por toda parte o descontentamento social, a luta dos pobres contra ricos, a rebelião contra a carestia dos gêneros alimentícios e a ira contra os negociantes, cuja maioria era português.

Virgilio Corrêa Filho assim via o panorama daqueles dias: “A indisposição contra os adotivos alastra-se tomando vulto. Rema nascentes dos tempos coloniais, em que dominaram, eram eles que ocupavam os melhores cargos públicos. Eles, os que tinham açambarcados o comércio da Província. Eles, os que, sebastianistas de nova espécie, constituíram o grosso do Partido Caramuru, que suspirava pela restauração de Dom Pedro I. Se a Corte e a Regência procuravam defender-se, expurgando o funcionalismo nacional de elementos estrangeiros, porque se conservar Mato Grosso alheio á reação de xenofobia?”

Queria Virgilio Corrêa referir-se á Portaria de 18 de Agosto, da Regência, que recomendava a demissão dos empregados estrangeiros, não sendo poupado, aqui em Mato Grosso, nem mesmo Frei José Maria de Macerata, pessoa tão estimada pela população, que foi dispensado da administração eclesiástica da Prelazia de Cuiabá, “por ser estrangeiro”.

Em Mato Grosso a “Sociedade dos Zelosos da Independência”, fundada em Agosto de 1833, “se encarregava de insuflar o ânimo popular contra os “brasileiros adotivos”, como eram chamados os portugueses, “comerciantes apatacados, com resquícios, no trato da prepotência trazida dos tempos coloniais”. {Virgilio Corrêa Filho}.

Liderava o movimento chamado “nativista” os integrantes daquela sociedade, Pascoal D. de Miranda, seu Presidente, Luis Patrício da Silva Manso, Cirurgião; Braz Pereira Mendez, Professor de Lógica; José Jacinto de Camargo, Promotor Público, Joaquim de Almeida Falcão, Presidente da Câmara Municipal; Eusébio Luiz de Brito, Professor de primeiras letras e José Alves Ribeiro.

Conforme informou Aquilino do Amaral Coutinho ao Visconde de Taunay, realizavam-se passeatas nas quais figurava uma “bandeira levada a várias localidades, toda vermelha e com a seguinte quadrinha em letras brancas:

“Embarca, bicudo, embarca,
Embarca, canalha vil,
Que os brasileiros não querem
Bicudos no seu Brasil”.

Foi o ambiente que o Dr. Antonio Corrêa da Costa encontrou ao assumir o Governo da Província em Julho de 1831. Procurando exercer uma ação conciliatória, viu entretanto, o Presidente baldado os seus esforços, de vez que os ânimos se acirravam cada vez mais.

O Visconde de Taunay, em seu livro “A Cidade do ouro e das ruínas”, do qual dedica nada menos que sete Capítulos aos sucessos da “Rusga” em Mato Grosso, estudando as “causas plausíveis do morticínio de Maio”, escreve: “Desde os primeiros tempos da Independência os portugueses, numerosos em Mato Grosso e sobretudo concentrados na cidade de Cuiabá, se haviam tornado alvo de inveja e de malquerença, já pela indispensável preponderância comercial, já por vexatória influência política, confirmada e ampliada pela Constituição de 25 de Março de 1824, que lhes dera a feição de brasileiros adotivos com todas as regalias de cidadãos natos.

A prosperidade de alguns deles, como o Tenente-Coronel José Joaquim Ramos, José Teixeira de Carvalho, Francisco Manoel Vieira, José Coelho Lopes, Manoel José Moreira, Major Joaquim Duarte Ribeiro e outros, particularmente excitava a cobiça e o rancor de não poucos filhos do País, também negociantes, sendo o sentimento de odiosidade aumentado pela imprudência dos adotivos, habituados ao mando dos tempos coloniais duro e áspero, sobretudo nas capitais mais distantes”.

Sobre essa questão, na segunda edição revisada do livro ‘O Processo Histórico de Mato Grosso’, dos professores Elizabeth Madureira Siqueira – Lourenço Alves da Costa – Cathia Maria Coelho Carvalho, eles nos contam assim: “O ideário político foi comungado pela camada mais baixa da população que, pelo seu estado de insatisfação e pobreza,almejava engajar-se na rebelião. Esta camada era formada de homens livres, porém, pobres e até miseráveis, que percebiam baixos salários, na sua grande maioria.Essa pobreza tornava-se ainda maior pelas dívidas contraídas aos armazéns, boticas e lojas, pois com o atraso dos salários, não dispunham os trabalhadores de numerário para adquirir, á vista, o mínimo necessário á sua subsistência e de sua família.

Desta forma, a participação da camada socialmente inferior representou mais a oportunidade de demonstrar sua insatisfação e a possibilidade de obter algum ganho material do que uma luta por um ideal político-partidário, pois a situação da província de Mato Grosso, nesse momento, era de extrema dificuldade, com os cofres públicos vazios e sem perspectivas, a curto prazo de regularizá-los, oferecendo uma situação propícia ás rebeldias e demonstrações evidentes de insatisfação.”  

Encontrando-se doente, após dois anos e meio de governo o Dr. Antonio Corrêa da Costa envia ofício á Regência, solicitando que se lhe dê um substituto. A escolha recai na pessoa de Antonio Pedro Alencastro, nomeado a 04 de Janeiro de 1834, mas que só tomaria posse a 29 de Setembro. Sentindo que a borrasca era iminente, o Presidente Antonio Corrêa da Costa desiste de esperar o seu substituto e resolve deixar o governo.

O fato que precipitou os acontecimentos foi a nomeação do adotivo José Joaquim Vaz Guimarães, indicado pela Regência para o cargo de Procurador Fiscal do Tesouro da Fazenda. Houve reação á sua posse por parte dos “Zelosos da Independência”. O caso foi levado pelo Presidente Corrêa da Costa ao exame do Conselho da Província, reunido na sede do Governo. Na votação, os favoráveis á sua posse e os contrários empataram e o Presidente desempatou mandando que se desse posse ao nomeado, por ser casado com brasileira e ter filhos brasileiros.

A Sociedade dos Zelosos da Independência não se conforma e promove manifestações, entre as quais um comício na praça da Matriz. Corrêa da Costa decide definitivamente sair e convoca o Vice-Presidente Gaudie Levy para assumir o cargo; este se recusa. Diante dessa atitude do Vice, Corrêa da Costa passa o poder nos termos da Lei de 20/10/1823, ao mais votado dos membros do Conselho, Capitão José de Mello Vasconcellos que nele permaneceu apenas dois dias, transferindo-o ao Coronel João Poupino Caldas, após a recusa de dois outros Conselheiros, José da Silva Guimarães e Albano Osório, pela ordem de votação dos mesmos.

Assim chega ao exercício da Presidência, a 28 de Maio de 1834, João Poupino Caldas, tido como um dos inspiradores do movimento contra os “bicudos”, pejorativa alcunha dada aos portugueses. Era o que faltava aos “Zelosos da Independência” para acenderem o estopim do conflito. Quarenta e oito horas depois que Poupino assume o poder, os conspiradores que arquitetavam os mais tenebrosos planos, sentiram-se garantidos pela “cobertura” que lhes significava a ascensão daquele caudilho ao governo. E passaram á execução da chacina que, segundo se dizia era comandada pelo Dr. Antonio Luiz Patrício da Silva Manso, cientista baiano que residia em Cuiabá e que, em virtude dos trágicos acontecimentos, recebeu o apelido de “Tigre de Cuiabá”.

Ao anoitecer do dia 30 de Maio, reuniram-se no Campo d’Ourique, hoje Praça Moreira Cabral, (Centro Geodésico da América do Sul) em Cuiabá, no exato lugar em que se encontra o Palácio Filinto Muller, que abriga atualmente a sede da Câmara Municipal da capital, 67 Guardas Nacionais, prontos para o levante, aos quais se somaram muitos outros, horas depois. Tomado de assalto o Quartel dos Municipais, na Praça da Matriz, apoderaram-se de armas e munições. Por volta de meia noite ouviu-se o toque de corneta, tiros de arcabuzes e gritos de morram os “bicudos”. E começou o arrombamento e saque das casas dos portugueses com o assassínio dos que eram encontrados.

O Visconde Taunay, no seu já citado livro, assim descreve a tragédia: “Com efeito, em Cuiabá, nas trevas da noite e á primeira badalada das 12 horas dada pelos sinos ao findar o dia 30 de Maio de 1834, levantou-se possessa de inexplicável fúria parte da população e aos brados de mata bicudo começou a trucidar, sem dó nem piedade, infelizes e imberbes portugueses, excitados pelos boatos de que por eles fora chamado Dom Pedro I e de que em todos ao pontos do Império se procedia a igual morticínio”

Vendo a extensão da chacina, que talvez ele próprio jamais imaginara, pede João Poupino Caldas a ajuda do Bispo Dom José dos Reis que sai á rua, de crucifixo em punho, tentando acalmar a turba desenfreada, sem nada conseguir. Não chegou a apurar ao certo, o número de vítimas de tão dramática ocorrência, nem há acordo de números entre os informantes, mesmo porque o motim se estendeu a outras localidades da Província”.

Motivado pela “Rusga”, a Loja “Razão” que era formada quase que totalmente pelos portugueses abateu sua colunas em Cuiabá, seus membros sobreviventes do levante fugiram para Goiás Velho, então capital do Estado de Goiás, e ali em 1835 fundaram a Loja “Asylo da Razão”, numa clara intenção de honrar e homenagear a Augusta Oficina abandonada as pressas na distante Cuiabá, por isso a lembrança viva, tendo Goiás Velho abrigado os que lá chegaram, “asylando os da Razão”! 

Bibliografia
 CASTELLANI, José. Do pó dos arquivos, V. II. Ed. A Trolha. Londrina.1996.
CASTELLANI, José. História do Grande Oriente do Brasil – A Maçonaria na História do Brasil. Ed. GOB. Brasília. 1993.
PÓVOAS, Lenine de Campos. História Geral de Mato Grosso: dos primórdios á queda do império. V. I. Ed. Resenha. São Paulo. 1995.
PROBER, Kurt. Cadastro Geral das Lojas Maçônicas do Brasil, Ativas, Abatidas e Inativas. Ed. Kurt Prober. Paquetá. 1975.
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