No tempo dos Dinossauros
Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitada por dinossauros. Vez por outra, aparece alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-históricos e outros objetos que existiram na pré-história. O historiador Jayme de Altavilla, em seu livro História da Civilização de Alagoas, refere-se a uma variedade de documentos arqueológicos, encontrados ao longo dos anos em várias regiões. Em Santana do Ipanema, no vale do rio Caiçara, foram encontrados esqueletos de animais pré-históricos. Também surgiram vestígios desses animais em Viçosa e São Miguel dos Campos. Em Anadia, no sítio Taquara, descobriram um cemitério de índios.
O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros sobre a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família Loureiro), encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem gravadas que passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos municípios de Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de pedras, como tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió.
Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-históricos. É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no Xingó Parque Hotel, expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela imensidão de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe uma exposição fixa de arqueologia.
Terra à vista
Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas, animais soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que foram chegando para iniciar o processo de colonização. A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do Estado, se constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de alagoanos, que tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres, mas presente na mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.
Esse pedaço de terra brasileiro, entre o Litoral e o Sertão, pertencia a Capitania de Pernambuco, comandada pelo donatário Duarte Coelho, que em visita ao Sul, deparou-se com o rio São Francisco. Lá, edificou um forte e deu origem a cidade de Penedo, comprovadamente o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Hoje, é uma cidade das mais importantes do Estado. Durante várias décadas, foi a mais progressista do interior. Perdeu para Arapiraca na segunda metade deste século. Mas continua imponente, com seu casario colonial, seu povo culto, seu potencial turístico e sua economia que cresce a cada dia.
Imaginemos Alagoas nos tempos do descobrimento do Brasil! Da foz do São Francisco a Maragogi: índios nativos como os Caetés e os Potiguaras. Nus, livres, vivendo da caça e da pesca, falando língua própria, usufruindo dessa beleza natural, com rios e lagoas sem poluição. Um povo festeiro, cultuando suas tradições. Era feliz e livre da presença do branco português, que aqui chegou para marginalizá-lo, exigir que aprendesse sua língua, sua religião e seus costumes. Todos perderam a identidade, e se tornaram escravos da ganância dos colonizadores, que só queriam extrair a riqueza da terra e enviar para Portugal.
Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias cores, dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram os Caetés e suas sub-tribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os Potiguaras. As demais tribos, eram:
- Abacatiaras, que viviam nas ilhas do rio São Francisco.
- Umans, no alto Sertão, às margens do rio Moxotó.
- Xucurus, em Palmeira dos Índios.
- Aconans, Cariris, Coropotós e Carijós, às margens do São Francisco.
- Vouvés e Pipianos, no extremo ocidental de Alagoas.
Esses nativos alagoanos eram bronzeados do sol escaldante, moravam em cabanas de palha, reunidas em forma de aldeias e viviam da caça e da pesca. Promoviam festas, utilizando-se de instrumentos musicais como corneta, flauta e maracá. Em combate, atiravam sobre o inimigo, flechas envenenadas e sobre as aldeias, flechas com algodão inflamado, para incendiá-las. As índias alagoanas trabalhavam muito. Fiavam algodão para confeccionar cordas e redes e ainda fabricavam vasos de barro para uso doméstico. O adultério era considerado crime. Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique, escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés.
Hoje, Alagoas tem as seguintes tribos:
- Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto de saúde, posto telefônico e outros benefícios.
- Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infra-estrutura econômica e social, funcionando.
- Tingui-Botós, em Feira Grande.
- Wassus em Joaquim Gomes, e uma outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai – Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo que vive no alto Sertão alagoano.
Assim era Alagoas na época do descobrimento do Brasil. Esse pedaço de Brasil, abençoado pela natureza, livre, com a Mata Atlântica exuberante, os rios e lagoas de águas cristalinas.
Os colonizadores
A primeira expedição ao Sul da Capitania de Pernambuco, foi conduzida pelo próprio donatário, Duarte Coelho, que saiu do Recife beirando o litoral até chegar a foz do rio São Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local privilegiado pela natureza, com o rio cheio de pedras. Edificou um forte e deu origem a povoação de Penedo. Duarte Coelho, segundo os historiadores, era dotado de muita capacidade administrativa e devotado a causa do governo português. Suas cartas ao Rei Dom João III, eram verdadeiros relatos sobre a riqueza da capitania, suas paisagens e os índios. Fundou Olinda, fez aliança com os índios e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, dando origem aos primeiros engenhos.
Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser colonizada. Aí surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para Cristovão Lins. Ele vivia em Portugal, onde casou-se com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou uma imensa sesmaria, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio Manguaba.
O segundo colonizador foi o português Antonio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da Barra Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre, descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana, mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antonio, em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado.
A sesmaria que compreendia às margens das lagoas Mundaú e Manguaba, pertencia ao português Diogo Soares, enquanto em São Miguel dos Campos, o dono das terras era Antônio de Moura Castro e as de Penedo, comandadas por Rocha Dantas. Outras sesmarias de menor porte, foram surgindo em vários pontos de Alagoas.
Os engenhos
A História de Alagoas é a história pela posse da terra. Doadas as sesmarias, os novos proprietários procuraram logo fazer a derrubada das matas e plantar cana-de-açúcar, surgindo os engenhos banguês que sustentaram a economia alagoana durante quatro séculos, até serem substituídos pelas usinas.
Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo adaptou-se a essa nova atividade. E, assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias dominando a economia. O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento sócio-econômico e cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano.
Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o mel e a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar uma Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados; a bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações, formavam um povoado. Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se constituiu no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial, Maranhão e Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou na segunda metade do século XVI.
Depois foram surgindo outros engenhos, já com o segundo colonizador, Antônio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda, irmã da mulher de Cristovão Lins. Esse casal fixou-se às margens do rio Camaragibe, terras hoje pertencentes aos municípios de Matriz e Passo de Camaragibe. Mas a sua sesmaria atingia ainda o vale do rio Santo Antônio, onde também edificou engenhos, como o próprio Engenho Santo Antônio, que funcionou por mais de três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio, em São Luiz do Quitunde, desde a década de 1950, pertencente a família Correia Maranhão.
Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e Paraiba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios, até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual Marechal Deodoro) e atingir o porto.
Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o açúcar a granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado no Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira rolante e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte, Ásia, África e outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a nível nacional) na produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo.
Costumes e tradições
O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito diferente do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores, mas que continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que produz. Os escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou negros. Os costumes e tradições mudaram muito.
Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou o canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e outros benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na capital, em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla marítima.
As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo que chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo para preservar o patrimônio da família.
As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de filhas de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou mesmo fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com quem o pai quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a engajar-se no trabalho da usina, logo que terminam a universidade, seja como administradoras de empresas ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas, dentistas ou qualquer outra profissão de nível superior. Os rapazes, também participam da atividade produtiva do patrimônio da família, na maioria das vezes, já como profissionais de nível superior, seja como engenheiro, agrônomo ou administrador de empresa.
Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina, ajudando o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já não são mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das atividades domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando em atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas, atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas.
Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas senzalas, cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os festejos realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São João e São Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras cerimônias. A capela, era o centro de todas as atenções.
Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos trabalhadores, geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do autêntico folclore típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam mini-saia ou calça colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra, aparece alguma dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa, comprada a prestação numa boutique da capital.
Ao invés do barracão (armazém de venda de alimentos) dos antigos engenhos, os trabalhadores das usinas, compram em supermercados ou mercadinhos das cidades próximas, ou mesmo na feira-livre. Os hábitos alimentares mudaram muito. Recebem seus salários no último dia útil da semana, e logo providenciam o abastecimento da cozinha, que dispõe de fogão a gás, geladeira, liquidificador e outros eletrodomésticos.
A televisão é a responsável pela mudança de hábito do homem do campo. Nas usinas, o trabalhador fixo, que dispõe de casa, já exibe no telhado, uma antena parabólica. Os filhos crescem vendo Xuxa, Angélica, Ratinho e muito mais.
Em algumas usinas, cujos proprietários são mais conscientes da realidade econômica e social, que prioriza a assistência ao trabalhador, funcionam escolas e creches para as crianças, além de assistência médica e odontológica. Nos engenhos banguês, crianças filhas de escravos ou trabalhadores brancos, não frequentavam escolas, que eram só para os filhos dos patrões. Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no social: A Caeté, do Grupo Carlos Lyra ; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo), do Grupo Leão; Santo Antonio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico (Campo Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras.
As vilas
Quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho visitou o Sul do seu domínio, deslumbrou-se com a região do baixo São Francisco, parando num local e dando início a povoação de Penedo. Lá construiu um forte , e daí em diante, foram surgindo novos moradores, culminando com o aparecimento da primeira vila fundada em Alagoas.
No século XVII, já despontando como a mais importante vila do Sul da Capitania de Pernambuco, foram sendo construidas as primeiras Igrejas e o convento, além de prédios diversos. Terra fértil, logo foi atraindo agricultores que plantavam todo tipo de lavoura, além do crescimento rápido da pecuária. O comércio expandiu-se. Penedo já era a mais importante vila, bem mais desenvolvida do que a chamada “cabeça-de-comarca”, a vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro).
Hoje, Penedo esbanja progresso. Detém um comércio bem movimentado, várias agências bancárias, ligações com o país e o mundo através do DDD/DDI, indústrias de álcool e outros setores; uma sólida formação cultural, com várias escolas de primeiro e segundo graus, além de uma Faculdade, jornal, rádios, teatro e festas tradicionais. O Relatório Estatístico de Alagoas, de 1998, aponta uma população de 40.554 habitantes na cidade e mais 13.888 na zona rural. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Durante vários anos, foi a mais desenvolvida cidade do interior alagoano, perdendo esse posto para Arapiraca, na década de 1960. Sua decadência, começou quando foi construída a ponte sobre o rio São Francisco, em Porto Real do Colégio, ligando Alagoas a Sergipe. A travessia de carros e passageiros, ainda continua na cidade, ligando-se ao outro lado do rio, através do rio. Mas o movimento mais intenso mesmo ficou por conta da ponte rodo-ferroviária.
Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros eventos de significativa importância sócio-econômica, como seminários, congressos, simpósios, peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem muitos turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até a foz, na praia do Peba.
Ainda no século XVII, emancipa-se o Povoado de Porto Calvo, tornando-se a segunda Vila. Sua Igreja, concluída em 1610, garantiu o título de primeira Freguesia fundada em Alagoas, antes da de Penedo. Preserva ainda seu alta-mor, todo em madeira, com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação (sua padroeira), do Cristo crucificado e de Nossa Senhora da Conceição.
Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se em uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por canavial, pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E a vila cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente ressurgindo no atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias, sistema de telefonia fixa e celular e toda a infra-estrutura para se desenvolver mais ainda. O Relatório Estatístico de Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes, sendo 12.798, na cidade. Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, é a única construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século XX e, ainda o Alto da Forca, onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres: Domingos Fernandes Calabar.
A terceira povoação fundada em Alagoas, foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, alusão a lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte, é a Mundaú, que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi crescendo e, logo no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando da invasão holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos invasores. Mas, recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já com o nome de Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para Maceió, que surgiu no século XVII, através de um engenho banguê.
Seu patrimônio histórico é rico em beleza arquitetônica, como o Convento e o Museu de Arte Sacra; a matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Palácio Provincial; a casa onde nasceu o marechal Deodoro; a cadeia pública e tantos outros monumentos, além do casario colonial e a beleza da lagoa Manguaba.
Hoje, é uma cidade em pleno desenvolvimento sócio-econômico, com boa rede de educação e saúde (possui uma Escola Técnica Federal e colégios de primeiro e segundo graus), além de hospitais e postos de saúde. Detém o Distrito Multifabril, com várias fábricas, gerando empregos e impostos para os cofres públicos, além da usina Sumaúma (açúcar e álcool). Figura entre o quarto maior município arrecadador de ICMS. É importante centro turístico, com seu patrimônio histórico intocável, e a praia do Francês, conhecida em todo o país. Sua população, segundo o Relatório Alagoas, é de 28.215 habitantes, sendo 17.451, na área urbana.
A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú. Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria de Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos anos depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo à Rio Largo, só se emancipando na década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e investe também no turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na cidade.
Os arqueólogos comprovam: Alagoas foi habitada por dinossauros. Vez por outra, aparece alguém confirmando que viu inscrições em pedras; descobriu ossos de animais pré-históricos e outros objetos que existiram na pré-história. O historiador Jayme de Altavilla, em seu livro História da Civilização de Alagoas, refere-se a uma variedade de documentos arqueológicos, encontrados ao longo dos anos em várias regiões. Em Santana do Ipanema, no vale do rio Caiçara, foram encontrados esqueletos de animais pré-históricos. Também surgiram vestígios desses animais em Viçosa e São Miguel dos Campos. Em Anadia, no sítio Taquara, descobriram um cemitério de índios.
O historiador viçosense, Alfredo Brandão, também é outro que fala em seus livros sobre a pré-história em Alagoas. Afirma que na propriedade Pedras de Fogo (da família Loureiro), encontra-se uma pedra com diversas cruzes gravadas, sendo uma delas tão bem gravadas que passa por milagrosa. Também fala em inscrições descobertas em pedras nos municípios de Capela, Atalaia, Porto de Pedras e Anadia. Sua coleção de instrumentos de pedras, como tambetá, machadinha e outros, está exposta no Instituto Histórico e Geográfico de Maceió.
Nas margens do rio São Francisco, já descobriram muitas ossadas de animais pré-históricos. É uma região, comprovadamente habitada naquela época. Um museu instalado no Xingó Parque Hotel, expõe muitos objetos arqueológicos descobertos por toda aquela imensidão de terras. No Centro de Apoio da Hidrelétrica de Xingó, do lado alagoano, existe uma exposição fixa de arqueologia.
Terra à vista
Quando o Brasil foi descoberto, a terra que constitui hoje o Estado de Alagoas, era um mundo de mata virgem, onde viviam índios nativos. Rios perenes, muito peixe, frutas, animais soltos. Enfim, a flora e a fauna exuberantes, enchiam os olhos dos portugueses que foram chegando para iniciar o processo de colonização. A grande quantidade de lagoas em seu litoral, fez com que os colonizadores batizassem logo a região de Alagoas. Elas continuam embelezando a paisagem típica do Estado, se constituindo em pontos de atração turística e ainda em sustento de milhares de alagoanos, que tiram dela, o peixe e o sururu, molusco típico, consumido não só pelos pobres, mas presente na mesa dos ricos, da classe média e dos bares e restaurantes.
Esse pedaço de terra brasileiro, entre o Litoral e o Sertão, pertencia a Capitania de Pernambuco, comandada pelo donatário Duarte Coelho, que em visita ao Sul, deparou-se com o rio São Francisco. Lá, edificou um forte e deu origem a cidade de Penedo, comprovadamente o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Hoje, é uma cidade das mais importantes do Estado. Durante várias décadas, foi a mais progressista do interior. Perdeu para Arapiraca na segunda metade deste século. Mas continua imponente, com seu casario colonial, seu povo culto, seu potencial turístico e sua economia que cresce a cada dia.
Imaginemos Alagoas nos tempos do descobrimento do Brasil! Da foz do São Francisco a Maragogi: índios nativos como os Caetés e os Potiguaras. Nus, livres, vivendo da caça e da pesca, falando língua própria, usufruindo dessa beleza natural, com rios e lagoas sem poluição. Um povo festeiro, cultuando suas tradições. Era feliz e livre da presença do branco português, que aqui chegou para marginalizá-lo, exigir que aprendesse sua língua, sua religião e seus costumes. Todos perderam a identidade, e se tornaram escravos da ganância dos colonizadores, que só queriam extrair a riqueza da terra e enviar para Portugal.
Nossos índios eram vaidosos, festeiros e valentes. Adoravam se pintar com várias cores, dançar e cantar. Achavam o nariz chato um importante requisito de beleza. No Sul eram os Caetés e suas sub-tribos, como a dos Caambembes, instalada em Viçosa. No Norte, os Potiguaras. As demais tribos, eram:
- Abacatiaras, que viviam nas ilhas do rio São Francisco.
- Umans, no alto Sertão, às margens do rio Moxotó.
- Xucurus, em Palmeira dos Índios.
- Aconans, Cariris, Coropotós e Carijós, às margens do São Francisco.
- Vouvés e Pipianos, no extremo ocidental de Alagoas.
Esses nativos alagoanos eram bronzeados do sol escaldante, moravam em cabanas de palha, reunidas em forma de aldeias e viviam da caça e da pesca. Promoviam festas, utilizando-se de instrumentos musicais como corneta, flauta e maracá. Em combate, atiravam sobre o inimigo, flechas envenenadas e sobre as aldeias, flechas com algodão inflamado, para incendiá-las. As índias alagoanas trabalhavam muito. Fiavam algodão para confeccionar cordas e redes e ainda fabricavam vasos de barro para uso doméstico. O adultério era considerado crime. Nas aldeias, todos se reuniam em forma de República. O chefe maior era o Cacique, escolhido entre os mais velhos e respeitados. O Pajé era o conselheiro espiritual. Nas grandes crises, eles se reuniam em conselhos, denominados Carbés.
Hoje, Alagoas tem as seguintes tribos:
- Xucurús, em Palmeira dos Índios, muito bem organizada, já toda civilizada, com escola, posto de saúde, posto telefônico e outros benefícios.
- Cariris, em Porto Real do Colégio, também com toda a infra-estrutura econômica e social, funcionando.
- Tingui-Botós, em Feira Grande.
- Wassus em Joaquim Gomes, e uma outra descoberta recentemente, ainda em estudo na Funai – Fundação Nacional do Índio, para constatar sua verdadeira identidade. É um pequeno grupo que vive no alto Sertão alagoano.
Assim era Alagoas na época do descobrimento do Brasil. Esse pedaço de Brasil, abençoado pela natureza, livre, com a Mata Atlântica exuberante, os rios e lagoas de águas cristalinas.
Os colonizadores
A primeira expedição ao Sul da Capitania de Pernambuco, foi conduzida pelo próprio donatário, Duarte Coelho, que saiu do Recife beirando o litoral até chegar a foz do rio São Francisco. De lá, rio acima, deparou-se com um local privilegiado pela natureza, com o rio cheio de pedras. Edificou um forte e deu origem a povoação de Penedo. Duarte Coelho, segundo os historiadores, era dotado de muita capacidade administrativa e devotado a causa do governo português. Suas cartas ao Rei Dom João III, eram verdadeiros relatos sobre a riqueza da capitania, suas paisagens e os índios. Fundou Olinda, fez aliança com os índios e iniciou o plantio da cana-de-açúcar, dando origem aos primeiros engenhos.
Mas toda essa extensão de terras, entre o Litoral e o Sertão precisava ser colonizada. Aí surge a figura de um alemão: Cristhovan Lintz, depois aportuguesado para Cristovão Lins. Ele vivia em Portugal, onde casou-se com Adriana de Hollanda, filha do holandês Arnault de Hollanda e da portuguesa Brites Mendes de Vasconcellos Hollanda. O casal desembarcou no Recife, na primeira metade do século do descobrimento (XVI) e ganhou uma imensa sesmaria, compreendendo o Cabo de Santo Agostinho até o vale do rio Manguaba.
O segundo colonizador foi o português Antonio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda Barros Pimentel, irmã da mulher de Cristovão Lins. Ele chegou ao porto da Barra Grande (Maragogi), ainda com a roupa que usava na Corte, em Lisboa. Era um nobre, descendente de uma das mais importantes famílias de Portugal, originária da cidade de Viana, mas com os seus ancestrais surgidos na Espanha. Ganhou uma sesmaria que compreendia as terras entre os rios Manguaba, passando pelo Camaragibe e chegando ao rio Santo Antonio, em São Luiz do Quitunde. Construiu engenhos de açúcar e criou gado.
A sesmaria que compreendia às margens das lagoas Mundaú e Manguaba, pertencia ao português Diogo Soares, enquanto em São Miguel dos Campos, o dono das terras era Antônio de Moura Castro e as de Penedo, comandadas por Rocha Dantas. Outras sesmarias de menor porte, foram surgindo em vários pontos de Alagoas.
Os engenhos
A História de Alagoas é a história pela posse da terra. Doadas as sesmarias, os novos proprietários procuraram logo fazer a derrubada das matas e plantar cana-de-açúcar, surgindo os engenhos banguês que sustentaram a economia alagoana durante quatro séculos, até serem substituídos pelas usinas.
Os primeiros engenhos surgiram nos vales dos rios Manguaba, Camaragibe e Santo Antônio, na região Norte de Alagoas. A terra fértil, logo adaptou-se a essa nova atividade. E, assim, começa a formar-se a chamada aristocracia açucareira, com as grandes famílias dominando a economia. O escritor Manoel Diegues Júnior, em seu livro O Banguê das Alagoas, faz um relato apaixonado dessa atividade que iniciou o processo de desenvolvimento sócio-econômico e cultural da Comarca, Capitania e Província de Alagoas. Mostra os costumes e tradições, a religiosidade, o domínio político, o folclore saído dos engenhos, enfim, um estudo de sociologia rural, que deveria ser lido por todos aqueles que realmente se interessam pela História desse povo bom, trabalhador, honesto e hospitaleiro, que é o alagoano.
Os engenhos banguês das Alagoas eram movidos a animais. Produziam o açúcar, o mel e a rapadura. Logo que eram construídos, seus proprietários procuravam também edificar uma Igreja. A casa grande emoldurava a beleza da paisagem típica da região. Algumas eram luxuosas, com móveis e objetos importados. A senzala, onde viviam os escravos amontoados; a bagaceira; a casa de purgar; o armazém (empório comercial) e outras edificações, formavam um povoado. Os primeiros engenhos foram construídos por Cristovão Lins, o alemão que se constituiu no verdadeiro colonizador de Alagoas. Ele batizou logo com os nomes de Escurial, Maranhão e Buenos Aires. Ficavam no atual município de Porto Calvo, que ele também fundou na segunda metade do século XVI.
Depois foram surgindo outros engenhos, já com o segundo colonizador, Antônio de Barros Pimentel, casado com Maria de Hollanda, irmã da mulher de Cristovão Lins. Esse casal fixou-se às margens do rio Camaragibe, terras hoje pertencentes aos municípios de Matriz e Passo de Camaragibe. Mas a sua sesmaria atingia ainda o vale do rio Santo Antônio, onde também edificou engenhos, como o próprio Engenho Santo Antônio, que funcionou por mais de três séculos, até ser transformado na atual e moderna Usina Santo Antônio, em São Luiz do Quitunde, desde a década de 1950, pertencente a família Correia Maranhão.
Outros engenhos foram surgindo nos vales dos rios São Miguel, Coruripe, Mundaú e Paraiba. E a atividade dominou a economia alagoana. O açúcar seguia para a Europa através do porto do Francês, saindo dos engenhos em lombo de boi ou burro, atravessando montes e rios, até chegar a vila do Pilar, e daí, seguindo em barcaças, passando pela velha capital (atual Marechal Deodoro) e atingir o porto.
Hoje, o transporte é rápido e seguro. Das usinas, saem os caminhões-tanque, com o açúcar a granel, atravessando estradas asfaltadas e chegando à Maceió, onde é descarregado no Terminal Açucareiro do Porto de Jaraguá em fração de minutos, saindo por uma esteira rolante e chegando ao porão dos navios, para daí seguir para a Europa, América do Norte, Ásia, África e outros Continentes, garantindo a Alagoas uma boa posição (segundo lugar a nível nacional) na produção de açúcar, perdendo apenas para São Paulo.
Costumes e tradições
O dia-a-dia nos engenhos alagoanos dos séculos XVII, XVIII e XIX, era muito diferente do das atuais usinas e destilarias. Não existem mais escravos, e sim trabalhadores, mas que continuam servis aos patrões. A maioria sem carteira assinada, ganhando pelo que produz. Os escravos eram negros, enquanto os trabalhadores atuais são mestiços, brancos ou negros. Os costumes e tradições mudaram muito.
Não existem senzalas, mas casas populares, em algumas usinas. A maioria preferiu deixar os trabalhadores morando nas cidades próximas e garantir o transporte para a usina ou o canavial. Assim, se ver livre do vínculo empregatício e a obrigação de garantir moradia e outros benefícios sociais. A casa grande, ainda existe. Mas geralmente o usineiro, vive mais na capital, em confortáveis mansões ou apartamentos luxuosos do Farol ou dos bairros da orla marítima.
As sinhazinhas (filhas dos senhores de engenho) eram preparadas para casar logo que chegassem a adolescência. Estudavam as primeiras letras com professores particulares na própria casa grande, aprendiam noções de latim e francês; bordavam, cozinhavam e liam poesias. Eram românticas, mas dificilmente casavam por amor, sendo obrigadas a casar - na maioria das vezes, logo que iniciavam a adolescência - com primos legítimos e até tios. Tudo para preservar o patrimônio da família.
As patricinhas (filhas dos usineiros) são meninas livres, que vivem a doce vida de filhas de milionários, viajando para o exterior, estudando nos melhores colégios da cidade, ou mesmo fora do país; usam roupas de grifes famosas e não mais são obrigadas a casar com quem o pai quer, embora que dificilmente procurem algum rapaz pobre. Algumas chegam a engajar-se no trabalho da usina, logo que terminam a universidade, seja como administradoras de empresas ou assistentes sociais, economistas, advogadas, médicas, dentistas ou qualquer outra profissão de nível superior. Os rapazes, também participam da atividade produtiva do patrimônio da família, na maioria das vezes, já como profissionais de nível superior, seja como engenheiro, agrônomo ou administrador de empresa.
Hoje, as senhoras dos usineiros, procuram trabalhar também na própria usina, ajudando o marido em atividades sociais, como a assistência às famílias dos trabalhadores. Já não são mais aquelas matronas, que se enfurnavam na casa grande, só cuidando das atividades domésticas e gerando filhos. Algumas optam pela vida produtiva na capital, atuando em atividades do comércio, como boutiques de marcas sofisticadas. Mas, são produtivas, atualizadas, viajadas e não mais esbanjam riquezas.
Nos engenhos, as festas eram restritas a casa grande. Os escravos ficavam nas senzalas, cultuando suas tradições africanas. Eram proibidos de, pelo menos, observar os festejos realizados pelos patrões, que comemoravam as festas do santo padroeiro, as de São João e São Pedro; o Natal e o Ano Novo, além de casamentos, aniversários, batizados e outras cerimônias. A capela, era o centro de todas as atenções.
Nas usinas desse início de século, realizam-se festas promovidas pelos trabalhadores, geralmente em clubes sociais administrados por eles próprios. Ao invés do autêntico folclore típico da zona canavieira, dançam e cantam o axé-music. As moças usam mini-saia ou calça colada ao corpo. Pouco se diferenciam das filhas do patrão. Vez por outra, aparece alguma dessas filhas do proletariado, usando uma calça jeans de marca famosa, comprada a prestação numa boutique da capital.
Ao invés do barracão (armazém de venda de alimentos) dos antigos engenhos, os trabalhadores das usinas, compram em supermercados ou mercadinhos das cidades próximas, ou mesmo na feira-livre. Os hábitos alimentares mudaram muito. Recebem seus salários no último dia útil da semana, e logo providenciam o abastecimento da cozinha, que dispõe de fogão a gás, geladeira, liquidificador e outros eletrodomésticos.
A televisão é a responsável pela mudança de hábito do homem do campo. Nas usinas, o trabalhador fixo, que dispõe de casa, já exibe no telhado, uma antena parabólica. Os filhos crescem vendo Xuxa, Angélica, Ratinho e muito mais.
Em algumas usinas, cujos proprietários são mais conscientes da realidade econômica e social, que prioriza a assistência ao trabalhador, funcionam escolas e creches para as crianças, além de assistência médica e odontológica. Nos engenhos banguês, crianças filhas de escravos ou trabalhadores brancos, não frequentavam escolas, que eram só para os filhos dos patrões. Existem bons exemplos de como conduzir uma empresa moderna, pensando no social: A Caeté, do Grupo Carlos Lyra ; Coruripe, do Grupo Tércio Wanderley; Leão (Rio Largo), do Grupo Leão; Santo Antonio (São Luiz do Quitunde), do Grupo Correia Maranhão; Porto Rico (Campo Alegre), do Grupo Olival Tenório, entre outras.
As vilas
Quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco, Duarte Coelho visitou o Sul do seu domínio, deslumbrou-se com a região do baixo São Francisco, parando num local e dando início a povoação de Penedo. Lá construiu um forte , e daí em diante, foram surgindo novos moradores, culminando com o aparecimento da primeira vila fundada em Alagoas.
No século XVII, já despontando como a mais importante vila do Sul da Capitania de Pernambuco, foram sendo construidas as primeiras Igrejas e o convento, além de prédios diversos. Terra fértil, logo foi atraindo agricultores que plantavam todo tipo de lavoura, além do crescimento rápido da pecuária. O comércio expandiu-se. Penedo já era a mais importante vila, bem mais desenvolvida do que a chamada “cabeça-de-comarca”, a vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro).
Hoje, Penedo esbanja progresso. Detém um comércio bem movimentado, várias agências bancárias, ligações com o país e o mundo através do DDD/DDI, indústrias de álcool e outros setores; uma sólida formação cultural, com várias escolas de primeiro e segundo graus, além de uma Faculdade, jornal, rádios, teatro e festas tradicionais. O Relatório Estatístico de Alagoas, de 1998, aponta uma população de 40.554 habitantes na cidade e mais 13.888 na zona rural. É tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional. Durante vários anos, foi a mais desenvolvida cidade do interior alagoano, perdendo esse posto para Arapiraca, na década de 1960. Sua decadência, começou quando foi construída a ponte sobre o rio São Francisco, em Porto Real do Colégio, ligando Alagoas a Sergipe. A travessia de carros e passageiros, ainda continua na cidade, ligando-se ao outro lado do rio, através do rio. Mas o movimento mais intenso mesmo ficou por conta da ponte rodo-ferroviária.
Mas aos poucos, a cidade foi soerguendo sua economia, e hoje é importante centro econômico e de turismo cultural. Durante alguns anos, realizava o Festival de Cinema, atraindo artistas e intelectuais de várias partes do país. Mantém o Festival de Tradições Culturais, a Festa do Bom Jesus dos Navegantes, Gincana de Pesca e Arremesso, Penedo Fest e outros eventos de significativa importância sócio-econômica, como seminários, congressos, simpósios, peças de teatro, etc. Suas Igrejas, seus sobrados e a beleza do rio São Francisco atraem muitos turistas, que dispõem de bons hotéis, restaurantes e passeio de barcos pelo rio, indo até a foz, na praia do Peba.
Ainda no século XVII, emancipa-se o Povoado de Porto Calvo, tornando-se a segunda Vila. Sua Igreja, concluída em 1610, garantiu o título de primeira Freguesia fundada em Alagoas, antes da de Penedo. Preserva ainda seu alta-mor, todo em madeira, com a imagem de Nossa Senhora da Apresentação (sua padroeira), do Cristo crucificado e de Nossa Senhora da Conceição.
Palco da luta dos holandeses pela colonização de Pernambuco, Porto Calvo ergue-se em uma colina, onde abaixo um imenso vale cortado pelo rio Manguaba, é ocupado por canavial, pastagem e lavouras de vários tipos. Terra fértil, logo foi atraindo novos moradores. E a vila cresceu, esbanjou progresso, mas foi decaindo ao longo dos séculos, somente ressurgindo no atual. Hoje, detém um comércio em franca ascensão, agências bancárias, sistema de telefonia fixa e celular e toda a infra-estrutura para se desenvolver mais ainda. O Relatório Estatístico de Alagoas, versão 1998, aponta uma população de 24.150 habitantes, sendo 12.798, na cidade. Pouca coisa lembra o seu passado. A Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, é a única construção secular. Alguns sobrados construídos no início do século XX e, ainda o Alto da Forca, onde dizem ter sido enforcado um dos seus filhos mais ilustres: Domingos Fernandes Calabar.
A terceira povoação fundada em Alagoas, foi Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul, alusão a lagoa Manguaba, onde está edificada às suas margens. A Lagoa do Norte, é a Mundaú, que banha Maceió, Coqueiro Seco, Santa Luzia do Norte e Satuba. A vila foi crescendo e, logo no século XVIII tornou-se cabeça-de-comarca, espécie de capital. Quando da invasão holandesa, foi quase toda destruída, com suas casas sendo incendiadas pelos invasores. Mas, recuperou logo, e cresceu novamente. Na emancipação política de Alagoas, já com o nome de Alagoas, foi escolhida como capital da nova Capitania. Perdeu espaço para Maceió, que surgiu no século XVII, através de um engenho banguê.
Seu patrimônio histórico é rico em beleza arquitetônica, como o Convento e o Museu de Arte Sacra; a matriz de Nossa Senhora da Conceição; o Palácio Provincial; a casa onde nasceu o marechal Deodoro; a cadeia pública e tantos outros monumentos, além do casario colonial e a beleza da lagoa Manguaba.
Hoje, é uma cidade em pleno desenvolvimento sócio-econômico, com boa rede de educação e saúde (possui uma Escola Técnica Federal e colégios de primeiro e segundo graus), além de hospitais e postos de saúde. Detém o Distrito Multifabril, com várias fábricas, gerando empregos e impostos para os cofres públicos, além da usina Sumaúma (açúcar e álcool). Figura entre o quarto maior município arrecadador de ICMS. É importante centro turístico, com seu patrimônio histórico intocável, e a praia do Francês, conhecida em todo o país. Sua população, segundo o Relatório Alagoas, é de 28.215 habitantes, sendo 17.451, na área urbana.
A quarta povoação fundada, foi Santa Luzia do Norte, às margens da Lagoa Mundaú. Quase era destruída pelos holandeses, mas a força de sua população liderada por dona Maria de Souza, impediu a invasão. Eles recuaram e a vila continuou em seu ritmo normal. Muitos anos depois, foi rebaixada condição de vila, ficando pertencendo à Rio Largo, só se emancipando na década de 1960. Hoje, dispõe de uma importante fábrica de fertilizantes e investe também no turismo. Detém uma população de 6.397 habitantes, sendo 5.139, na cidade.
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