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HISTÓRIA DO ESTADO DE ALAGOAS

Calabar – herói ou traidor?
Chamava-se Domingos Fernandes Calabar, um mulato filho de dona Ângela Álvares, nascido na Vila de Porto Calvo. Estudado, rico e com espírito de liderança, avançou no seu tempo. Mesmo assim, ainda era discriminado pelos brancos portugueses e brasileiros, por sua condição de mestiço e filho bastardo. Possuia engenhos de açúcar, muito dinheiro, estudou em Olinda, era culto e muito bem informado.

Quando da Invasão Holandesa à Porto Calvo, lutou ao lado de seus conterrâneos contra esses invasores. Mas logo foi percebendo que eles tinham um projeto de colonização muito mais avançado e ético do que o dos portugueses. Não contou conversa: passou para o lado dos holandeses. 

Começa então, a história desse bravo alagoano, que alguns historiadores afirmam ter sido traidor, mas que ele próprio nunca se considerou assim. Deixou uma carta-testamento, mostrando a sua decisão. Nela, alegava que não se considerava traidor, porque o Brasil não era uma pátria. E que o projeto dos holandeses era muito melhor para os brasileiros. Mas não foi compreendido, obviamente. 

Calabar viveu as experiências mais desastrosas daquelas época. Acompanhava os holandeses em suas batalhas, destruindo engenhos e fazendas. Sabia que tudo aquilo que acontecia era porque seus conterrâneos não aceitavam a proposta de colonização dos invasores, optando mesmo pelos portugueses, já que eram descendentes destes. 

Por conhecer Recife e seu avançado projeto de desenvolvimento econômico-cultural, queria que tudo aquilo fosse implantado em Porto Calvo e Penedo. Não conseguiu. Seus conterrâneos venceram. Mas ele deixou bem patente em sua carta, que preferia derramar seu sangue por uma causa justa, que ele abraçou, do que viver sob o domínio mesquinho dos portugueses, que só queriam mesmo explorar os brasileiros. Foi morto e esquartejado, com partes do seu corpo distribuidas pelas ruas da Vila de Porto Calvo. Mas, os holandeses conseguiram recuperar tudo e fizeram o seu enterro com honras militares. Passou para a História da Holanda, como herói. A História do Brasil, o considera um traidor. Mas era escrita pelos portugueses. Na Holanda, ele é um herói. Existe até uma praça no Centro de Amsterdã, com seu nome, além de livros e documentos que comprovam as idéias de colonização desse bravo alagoano. 

Hoje, Porto Calvo só tem como monumentos para lembrar a sua importância na História de Alagoas, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação, inaugurada em 1610 (existe no alto de sua fachada, essa data), com seu alta-mor em madeira, originalíssimo e as imagens da sua padroeira, de Cristo crucificado, de Nossa Senhora da Conceição e outras. É a mais antiga freguesia de Alagoas. Para lembrar Calabar, existem: o chamado Alto da Forca, onde dizem que ele foi enforcado, o Fórum, além de um clube, um bar e restaurante que levam o seu nome. Mas, o importante mesmo é a luta dos filhos da terra para resgatar a memória desse conterrâneo. São publicados livros e outros periódicos, enaltecendo a sua figura. A esperança é de que um dia, ele seja finalmente considerado Herói Nacional, como foi Zumbi, outro que os portugueses também consideravam como traidor.

Rumo à Independência
O progresso do Sul da Capitania de Pernambuco conhecido como Alagoas, fez com que sua população fosse logo desejando a independência. Mas nada era fácil. No início da segunda década do século XVIII, foi criada a Comarca de Alagoas, sob a jurisdição da Capitania de Pernambuco, e nomeado o primeiro Ouvidor Geral: José da Cunha Soares. 

Por não existir cursos jurídicos no Brasil, esse cargo era destinado a quem fosse mais letrado, com espírito de liderança. Transformava-se em comandante da Justiça, da Política e da Economia. E no período de mais de um século, entre 1711 a 1817 (ano da sua emancipação política), Alagoas teve 17 ouvidores-gerais. 

Foi exatamente na segunda metade do século XVIII, que surge Maceió, de um engenho de açúcar denominado Massayó. A palavra é de origem indígena, significando terra alagadiça, que deu origem ao riacho com o mesmo nome. O engenho, de propriedade de Apolinário Fernandes Padilha, localizava-se na atual Praça Dom Pedro II, com o engenho propriamente dito, a casa de purgar, a senzala, a casa grande e a capelinha em louvor a São Gonçalo, que ficava no meio do morro do Jacutinga (Ladeira da Catedral). Durou poucos anos. Ficou em fogo morto e o povoando foi crescendo. Surgiram novos moradores, que logo foram construindo suas casas e formando um arruado. Em 5 de dezembro de 1815, o povoado é elevado a categoria de Vila, desmembrando-se da Vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro). 

Surgiram ainda as povoações de Anadia, Atalaia, Camaragibe, São Miguel dos Campos, Poxim e Porto de Pedras. A Comarca tinha como sede a vila de Alagoas, atual Marechal Deodoro, uma espécie de capital, já com suas Igrejas monumentais, ainda hoje preservadas. Penedo, Porto Calvo e Santa Luzia do Norte, eram as outras vilas, que continuavam crescendo e atraindo novos moradores. 

Ainda no século XIX existiam em Alagoas as vilas de Água Branca, Mata Grande, Pão de Açúcar, Traipu, Piranhas, Palmeira dos Índios, São Miguel dos Campos, Quebrangulo, Assembléia (Viçosa), Imperatriz (União dos Palmares), São José da Laje, Murici, São Luiz do Quitunde, Coqueiro Seco e Pilar. 

A traição que deu certo
A Comarca de Alagoas já esbanjava progresso, provocando ciumeira em meio as lideranças da Capitania de Pernambuco. Nas duas primeiras décadas do século XIX, já apresentava-se em condições de se tornar independente. Mas os donatários não aceitavam. Afinal, era daqui que eles abocanhavam uma boa parcela da arrecadação de impostos, além da grande produção de açúcar dos nossos engenhos. 

O Ouvidor Batalha, sempre sonhava em transformar Alagoas em Capitania e, ser o seu primeiro governador. Aproveitou a Revolução Pernambucana, que tinha como objetivo libertar-se de Portugal e, iniciou seu plano. Os revolucionários já haviam conquistado o apoio da Paraiba e Rio Grande do Norte. Faltava Alagoas e Sergipe (Comarcas), além da Bahia e Ceará. 

Um emissário foi enviado do Recife a Salvador, para tentar conquistar esse tão sonhado apoio. Passando por Alagoas, propagava os ideais revolucionários e conquistava alguns adeptos. Mas o Ouvidor Batalha não se encontrava na sede da Comarca e sim na vila de Atalaia, já em campanha em prol da emancipação política de Alagoas.
O emissário que trouxe a notícia para Alagoas e seguiu para Sergipe e Bahia, foi o Padre Roma. Aqui, encontrou um apoio de peso: o Comandante das Armas, Antonio José Vitoriano Borges da Fonseca, que atendendo ao pedido do Padre Roma, autorizou a destruição dos símbolos de Portugal e colocou em liberdade todos os presos. Passou por cima da autoridade maior da Comarca: o Ouvidor Batalha. Escreveu ao Conde D’Arcos, governador da Bahia, informando sobre os ideais da Revolução Pernambucana e seu apoio, pedindo o dele. Não conseguiu. Arrependeu-se de ter seguido os conselhos do Padre Roma. Era tarde demais. 

Em Atalaia, o Ouvidor Batalha, aproveitando os tumultos, escreve ao Conde D’Arcos comunicando-lhe das medidas que resolveu tomar: desmembrou a Comarca de Alagoas da jurisdição da Capitania de Pernambuco, enquanto durasse a revolução, e auto-nomeou-se governador provisório. Contou com o apoio que precisava, e venceu a batalha. Dias depois, Alagoas separou-se definitivamente de Pernambuco. Mas ele não conseguiu o que tanto sonhava: ser seu primeiro governador. 

O decreto assinado por Dom João VI, em 16 de setembro de 1817, emancipando Alagoas de Pernambuco, transformando a Comarca em Capitania, estabeleceu como capital a vila de Alagoas (atual Marechal Deodoro) e nomeando como primeiro governador, o português Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, que acabara de governar a Capitania do Rio Grande do Norte. 

Ao desembarcar no porto de Jaraguá, o governador encantou-se com a vila de Maceió. Foi recebido com muitas festas e, hospedou-se no sobrado de um português na esquina das ruas do Comércio e Livramento, onde hoje funciona a Ótica Flamengo. 

Sua posse aconteceu na matriz de Nossa Senhora da Conceição, na capital, numa solenidade com muita pompa, autoridades diversas e muitos discursos. Mas o governador não gostou muito do aspecto urbano da antiga vila, sempre priorizando Maceió. 

E essa opção pela vila ao invés da capital, fez com que várias autoridades protestassem. Os de Alagoas (Marechal Deodoro) não aceitavam sob hipótese alguma, a instalação de repartições públicas na vila de Maceió, enquanto o próprio governador e várias outras personalidades políticas, econômicas e culturais, preferiam mesmo que os principais órgãos públicos fossem instalados em Maceió, por ser mais desenvolvida que a capital, possuir um movimentado porto e toda a infra-estrutura de uma capital. E assim foi feito. 

Melo e Póvoas instalou a Junta de Administração e Arrecadação da Real Fazenda, o Quartel Militar e a Alfândega. Ciumeira geral. 

Maceió crescia a olhos vistos. O governador, mandou que fosse elaborada uma planta urbana, para proporcionar um novo visual a vila. O traçado das ruas e das praças e os melhoramentos necessários. E assim surgiram as ruas do Comércio, do Sol, Livramento, Boa Vista, Moreira Lima, Augusta, Nova, Alegria e as praças Dom Pedro II e Martírios. O traçado continua o mesmo. Nunca houve alargamento, mudando apenas a arquitetura das casas. 

O governador afastou-se do cargo em fevereiro de 1822, retornando à Portugal. Criou-se uma junta governativa formada por Antonio José Ferreira, José de Souza Melo, Nicolau Paes Sarmento, Manoel Duarte e Antonio de Hollanda Cavalcante, que permaneceu até a independência do Brasil, quando a Capitania foi transformada em Província. 

A Província de Alagoas
Quando da independência do Brasil, Alagoas já esbanjava progresso, tendo o açúcar, como seu carro-chefe. Dezenas de engenhos produziam e exportavam através do Porto de Jaraguá. Os governadores passaram a ser denominados presidentes. E o primeiro deles, nomeado por Dom Pedro I, foi o pernambucano Nuno Eugênio de Lossio, que instalou o Conselho de Governo e autorizou as eleições para deputados e senadores.
O segundo presidente, foi o mineiro Cândido José de Araújo Viana (Marquês de Sapucaí), que ficou no cargo apenas cinco meses, período em que instalou o Correio Provincial. É substituído por Miguel Veloso da Silveira Nóbrega e Vasconcelos, que determinou a criação de câmaras municipais nas cidades e vilas. 

E novos governantes, chegavam e saiam em pouco tempo. Eram baianos, pernambucanos, mineiros, paulistas, gaúchos e de outras províncias, que não se adaptavam por aqui e terminavam renunciando. 

Novas vilas foram surgindo nessa primeira fase de Alagoas como Província. Em 13 de outubro de 1831, emanciparam-se de Atalaia, as vilas de Assembléia (atual Viçosa) e Imperatriz (União dos Palmares), ambas na zona da Mata alagoana. 

Também nesse período, ocorreu a chamada Cabanada Selvagem, revolta dos índios de Jacuípe, na região Norte da Província, contra o assassinato de seu cacique, provocando muitos conflitos e assassinatos, além de destruição de engenhos e fazendas. 

Em 1831, surge o primeiro jornal impresso de Alagoas, mais precisamente em Maceió: o Iris Alagoense. Teve duração curta, porque o coronelismo imperava naquela época. Seu principal redator sofreu um atentando, escapando por milagre e, decidindo-se mudar-se para Recife. Depois, o nome foi substituido por O Federalista Alagoense, já impresso em Maceió. A vila já estava com ares de capital. Tinha até jornal, enquanto a capital propriamente dita (Alagoas, atual Marechal Deodoro) entrava em processo de decadência. Em 1849, mais uma conquista de Maceió (já como capital): o primeiro estabelecimento de ensino secundário: Lyceu Alagoano, ainda hoje funcionando com nome original, depois de se chamado Colégio Estadual de Alagoas. 

Nos primeiros anos do Brasil independente, Alagoas “fervia”. Eram constantes conflitos entre brasileiros e portugueses. A Confederação do Equador, que explodiu em Pernambuco, chegou por aqui, tendo o apoio do senhor de engenho Manuel Vieira Dantas e sua mulher Ana Lins, de São Miguel dos Campos. Houve muita perseguição aos revolucionários e ela entricheirou-se em seu engenho em São Miguel dos Campos, lutando até o fim do conflito, tornando-se uma das heroínas de Alagoas. 

A notícia da abdicação de Dom Pedro I, chegou a Alagoas e provocou mais brigas entre brasileiros e portugueses. Os primeiros, representando a imensa maioria, em caminhada pelas ruas de Maceió, atacam o Quartel, apoderando-se de munições e chegam a prender lideranças portuguesas. Os manifestantes apoiavam a abdicação, por ser Dom Pedro II, brasileiríssimo. Enfim, o trono do Brasil, com um brasileiro. 

Dessa época (1822-1831), restam poucas reminiscências: Igrejas e conventos em Penedo, Marechal Deodoro e Porto Calvo. Em Maceió, o antigo forte de São João, atualmente um quartel do Exército, no Centro da cidade; o próprio traçado das ruas (obviamente que, com as edificações com arquiteturas diferentes); o porto de Jaraguá: a Igreja daquele bairro e, só. Tudo foi mudando aos poucos, preservando-se apenas os monumentos mais importantes. 

Maceió, capital
Desde os tempos do primeiro governador, Sebastião Francisco de Melo e Póvoas, Maceió já esbanjava progresso, provocando ciumeira entre os habitantes da velha Alagoas, a capital da Capitania e depois Província. O próprio governador, passava mais tempo na vida do que na capital. E, decidiu instalar as principais repartições públicas em Maceió. 

As mais importantes lideranças políticas daquela fase, eram: Tavares Bastos (na capital) e Cansanção de Sinimbu (em Maceió). Chegou-se a se formar uma verdadeira guerrilha, que ficou conhecida como Lisos e Cabeludos, provocando tumultos generalizados e mortes. 

No governo de Agostinho da Silva Neves, a situação agravou-se. Ele também permanecia mais em Maceió do que na capital da província. O ano de 1839 foi o pior de todo o período dessa administração. O presidente, chegou a ser preso por ordem do major Mendes da Fonseca, na capital. Solto, encaminhou-se ao porto do Francês, com ordem para deixar Alagoas. Mas pediu ao condutor do navio que fizesse o caminho de volta, dirigindo-se ao porto de Jaraguá. Ao chegar, foi recebido com muita festa pela população, liderada por Sinimbú, já auto-nomeado presidente da Província, enquanto na capital, Tavares Bastos, considerava-se também, presidente. Mas o titular, resolveu a questão de uma vez por todas. No dia 9 de dezembro de 1839, assina o decreto transferindo a capital da velha Alagoas (Marechal Deodoro) para Maceió. O fim de um sonho que tornou-se realidade, por justiça mesmo. Afinal, a vila era muito mais importante do que a capital da Província. 

A cada dezembro, os maceioenses comemoraram duas datas festivas: o dia 5, lembra 1815, quando o povoado foi elevado a categoria de vila (município de hoje) e o dia 9, a transferência da capital, a data mais importante, porque era o acontecimento mais esperado naquela época. 

Em 1859, Maceió recebe a visita do Imperador Dom Pedro II, que inaugurou a Catedral Metropolitana, com a bonita imagem da padroeira, Nossa Senhora dos Prazeres, presenteada pelo Barão de Atalaia e trazida de Portugal. A imagem representa os sete prazeres de Maria. Sua passagem pela capital ficou na História. Ele hospedou-se no sobrado do Barão de Atalaia (prédio anda hoje existente e preservado, que pertence a Aliança Comercial, na Praça Dom Pedro II). Esse sobrado de dois andares era o maior da cidade, mas seus moradores perderam a visão do mar, por causa de uma intriga com o Barão de Jaraguá, que construiu um outro mais alto, a sua frente (hoje, a Biblioteca Pública). O Imperador participou de festas na capital, e seguiu viagem para Penedo, Traipu, Pão de Açúcar e a cachoeira de Paulo Afonso, além de visita aos engenhos da zona da Mata e a Colônia de Leopoldina. 

Até as primeiras décadas do século XX, Bebedouro era o bairro nobre da capital, com suas mansões. Depois surgiu o Farol. A Avenida da Paz, no Centro, a beira-mar, era a preferida para a construção de bangalôs, onde viviam as mais tradicionais famílias da cidade. O Hotel Atlântico, foi durante muito anos, um dos mais procurados pelos viajantes. Construido a beira-mar e ao lado do riacho Salgadinho (limpíssimo), sempre foi um bonito exemplar da arquitetura das primeiras décadas do século XX. Sua arquitetura foi descaracterizada. O sobrado da família Machado, era outro exemplo de beleza arquitetônica. Depois foi adquirido pela Universidade Federal de Alagoas, para servir de Residência Feminina Universitária, passando logo após a abrigar o Museu de Folclore Théo Brandão. Abandonado, o prédio foi ruindo aos poucos e todo o acervo transferido para a antiga Reitoria. Mas, foi recentemente restaurado, esbanjando toda a sua beleza. A Avenida, era também o cartão-postal: praia limpa, com areia branca. Palco do carnaval de rua, com o desfile de blocos e escolas de samba, além de desfiles estudantís e militares, nas comemorações do Dia da Independência e da Emancipação Política de Alagoas. 

Os sobrados do Centro, emolduravam a paisagem típica de uma capital provinciana. O Hotel Bela Vista, na Praça dos Palmares, sempre foi o prédio de maior beleza arquitetônica, com sua varandas, com vista panorâmica para o mar da Avenida da Paz. Hoje é um edifício de 13 andares, que serve a representação do Ministério da Saúde. Ao lado, onde estão os edifícios do INSS, existia o antigo palácio do Governo, com quadro andares. A Praça Sinimbú, era repleta de sobrados, onde vivia a burguesia. Em frente o prédio da Linha de Bondes, com seu relógio. Foi derrubado, para construir a Faculdade de Engenharia, depois Reitoria da Universidade Federal de Alagoas, e atualmente, Espaço Cultural da Ufal. 

Imaginem Maceió no início do século XX, com seus sobrados, Igrejas e a população andando nas ruas centrais! Os homens de terno, gravata e chapéus e as mulheres de vestidos longos, esbanjando charme e elegância. Os bondes eram puxados por cavalos. Só depois, chegaram os movidos a eletricidade. Faziam o percurso entre o Centro, Trapiche, Bebedouro, Farol e Pajuçara. Até 1958, era esse o principal meio de transporte urbano. A alegria da juventude, que estudavam nos colégios São José, Instituto de Educação, Anchieta, Lyceu, Guido, Diocesano, Sacramento, Batista e outros. Depois surgiram as “sopas”, uma espécie de micro-ônibus. Mas os bondes deixaram saudade. 

E Maceió nunca parou de crescer. A cada censo realizado pelo IBGE, constata-se mais gente vivendo na capital alagoana, que neste início de novo milênio, ostenta uma população de mais de 800 mil habitantes. Novos bairros vão surgindo. Mas surgem também, novas favelas, que já somam quase 100, fruto do êxodo rural e do desemprego generalizado. 

Os bairros da orla marítima (Cruz das Almas, Jatiúca e Ponta Verde), que até a década de 1960, eram imensos sítios de coqueiros, foram atraindo moradores, com a construção de edifícios de apartamentos. Hoje, formam um verdadeiro labirinto de concreto. Mas existe uma lei municipal que proíbe a construção de prédios a beira-mar com mais de seis andares. Esses bairros só estão crescendo mais verticalmente (edifícios). Não existe mais espaço para casas. Essas são construídas na parte alta da cidade, como Barro Duro, Serraria, Tabuleiro do Martins e Benedito Bentes. Surgem condomínios fechados, com verdadeiras mansões, como o Aldebaran e Jardim do Horto. 

Nos anos 60, a novidade foi o Edifício Breda, com seus dez andares, onde a juventude sempre se dirigia para subir até o último andar, de elevador (novidade) e apreciar a beleza da orla marítima e das lagoa de Mundaú. Era ponto de encontro para namorados. Mas também serviu para suicídio de muita gente. Ainda nesse período, é construído o Edifício São Carlos, com 11 andares e 22 apartamentos, na Avenida da Paz, de frente para o mar. Foi o primeiro edifício de apartamento da cidade. Depois, outra atração: a escada rolante da Lobrás. Todos queriam experimentar, subindo na escada, sem precisar dos batentes, e se deliciar com a beleza da loja e suas mercadorias expostas. 

A capital modernizou-se, com edifícios comerciais e residenciais. Em 1989 ganhou seu primeiro shopping center: o Iguatemi. A partir daí, foram surgindo outros. Só em 1998, dez deles foram instalados, de pequeno e médio portes, abrindo-se assim 2 mil novos empregos diretos e 600 pontos de venda. O comércio descentralizou-se, atingindo os vários bairros.

O tradicional bairro de Jaraguá está sendo revitalizado. Seus sobrados, ruas estreitas e praças, ganham o visual de antigamente. O imponente prédio da Associação Comercial de Maceió, construido na década de 1920, foi restaurado. O mesmo ocorreu com o prédio da antiga Alfândega (Museu da Imagem e do Som), enquanto as ruas tiveram o asfalto retirado, para dar lugar ao calçamento em pedras. O projeto também beneficia a praia da Avenida, antigo cartão postal. 

O Centro da cidade, deverá ser revitalizado. Alguns prédios já foram, a exemplo do próprio Palácio Floriano Peixoto (Palácio dos Martírios – sede do governo), do Instituto Histórico, da Biblioteca Pública, da Aliança Comercial, Tribunal de Justiça, Assembléia Legislativa, Academia Alagoana de Letras e Teatro Deodoro, todos construídos no século passado. 

A cidade detém um bom lugar no ranking do turismo nacional. Na alta temporada de verão, fica com seus hotéis e pousadas lotados. Navios de passageiros, chegam ao Porto de Jaraguá, com centenas de estrangeiros. Os turistas visitam as praias, lagoas, bares, restaurantes, mirantes, monumentos históricos e adquirem o artesanato local. A vida noturna é bastante agitada. Existem bares, restaurantes e boates espalhados por vários pontos. Mas os destaques são: Stela Maris, Jatiúca, Ponta Verde, Pajuçara e Jaraguá. Todos na orla marítima. 

Guerras e guerrilhas
Alagoas sempre foi palco de conflitos e sua fama de terra violenta correu o país. No século XIX, surgiram vários desses conflitos. Na briga pela disputa da capital entre Marechal Deodoro e Maceió, consagrou-se dois alagoanos: Cansanção de Sinimbu e Tavares Bastos. Surgiu daí a chamada Guerra dos Lisos e Cabeludos, respectivamente conservadores e liberais. Era uma espécie de partidos políticos. 

Os Lisos, comandados por Tavares Bastos, denunciavam que Cansanção de Sinimbu queria dominar Alagoas, formando uma verdadeira oligarquia. O dia 4 de outubro de 1844, foi “um dia de cão” em Maceió. Os Lisos invadiram Maceió e comandaram um tiroteio no Centro, que durou duas horas. 

Ainda na década de 1840, surgem os temidos irmãos Moraes, que, para vingar a morte do pai, formaram um bando semelhante ao de Lampião, espalhando o terror por toda Alagoas. Para alguém morrer, bastava que o bando desconfiasse que este pertencia ao partido dos Cabeludos. A primeira vítima foi um tenente de Quebrangulo. 

Os irmãos Moraes, dividiam o ódio pelos assassinos do pai, aos integrantes dos Cabeludos. Tentaram matar o Barão de Atalaia, que diziam encontrar-se no Sertão de Pernambuco. Não encontraram o alvo, mas mataram um rapaz inocente, que estava na casa onde deveria se encontrar o Barão. 

Durante a Guerra do Paraguai, Alagoas enviou cerca de 3 mil homens para combate, inclusive toda a família Mendes da Fonseca (Deodoro e seus irmãos). A mãe, dona Rosa da Fonseca, vibrava com as notícias de vitória do Brasil, e demonstrava essa alegria, exibindo panos brancos nas janelas de sua casa na velha cidade de Alagoas. Mas três de seus filhos morreram em combate. Para ela, um ato de heroísmo. No final, o Paraguai ficou destruído. O que importava para o Brasil era mesmo acabar com aquele pequeno país, que na época adotava um sistema semelhante ao socialismo do século XX. O povo paraguaio, sempre teve espírito cívico. Quando surge algum ditador, procura derrubá-lo do poder. Assim fizeram com Alfredo Stroesner e mais recentemente com Raul Cubas. Ambos se refugiaram no Brasil. 

Nas décadas de 1920/30, o terror foi espalhado no Sertão alagoano com as sucessivas passagens de Lampião e seu bando, que evitavam as cidades por onde o trem passava. Mas, foi a polícia alagoana, que conseguiu acabar com essa fase de violência, matando Lampião, Maria Bonita e quase todos os cangaceiros, numa gruta, do outro lado do rio São Francisco, na localidade conhecida como Angicos. 

Os chefes políticos sempre dominaram Alagoas, espalhando a violência em várias regiões. Sempre ficavam impunes. Detinham o poder político e econômico. Muitos episódios marcaram a História de Alagoas, envolvendo famílias violentas. Os Malta, de Mata Grande, fizeram história, brigando entre si: Maia, de Pão de Açúcar; Teixeira, de Chã Preta; Mendes, de Palmeira dos Índios; Novaes, de Santana do Ipanema; Fidelis, de Pindoba; Calheiros, de Flexeiras; Tenório, de Quebrangulo (de onde surgiu o lendário Tenório Cavalcante, mais conhecido como o “homem da capa preta”, que migrou para o Rio de Janeiro, aterrorizando a Baixada Fluminense, com sua famosa metralhadora: a Lourdinha. 

Essas famílias, brigavam entre sí, por questões de terra e política. aterrorizando os moradores das cidades, que, temiam ser mortos. Em Mata Grande, os Malta brigavam entre primos, irmãos, tios e outros parentes, provocando tiroteios em plena rua. Ninguém se atrevia a abrir a porta. Sempre foram temidos e se orgulhavam disso. Pindoba, sempre foi dominada pelos Fidelis, que aterrorizaram a pequena cidade. Não é mais. Muitos morreram, outros estão presos e, os sobreviventes, já não seguem o que seus antecessores fizeram. Matavam friamente os pobres coitados, que “olhassem atravessado” para um deles. Mas, essa fase também vem acabando. Muitos desses valentões já morreram, e os descendentes, já não mais seguem essa atitude burra, em desuso no mundo moderno em que vivemos. Pindoba hoje é comandada por um jovem fazendeiro, que não tem qualquer grau de parentesco com os Fidelis. A paz estabeleceu-se na cidade.

Outro episódio que ficou na história, ocorreu mais recentemente, envolvendo as famílias Calheiros e Omena, com sucessivos crimes, aterrorizando Maceió. O cabo Henrique, da Polícia Militar, para vingar a morte do pai, juntou seus irmãos (Omena) para matar os integrantes de uma porção violenta da família Calheiros, que assinam-se Cavalcanti Lins, com base na cidade de Flexeiras. Assassinatos sucessivos entre as duas partes, eram manchetes dos jornais na época. 

No Sertão alagoano, surgem dois personagens, que aterrorizaram o Estado com sucessivos crimes: Floro e Valderedo. Iniciaram a matança por questão de vingança, e aos poucos, os assassinatos foram se sucedendo, culminando com uma espécie de bando, quase semelhante ao de Lampião.

Neste final de século, surgiu um outro bando, que aterrorizou o Sertão. Era de Marcos Capeta, um jovem revoltado, que assassinou dezenas de pessoas em várias cidades de Alagoas, Sergipe, Bahia e Pernambuco. Sempre conseguiu fugir da polícia. Mas foi morto pela PM baiana em agosto de 1999. 

Vez por outra, surgiam famílias que dominavam a política e a economia em seus municípios, envolvendo-se em questões de terras, culminando com muita violência. Aos poucos, o coronelismo vai acabando, graças a democracia, com a liberdade de imprensa e as denúncias feitas, envolvendo figuras importantes do mundo político e econômico, que acabam abandonando esse lado violento e engajando-se ao mundo globalizado, competitivo e criativo, ao lado dos chamados emergentes, que são pessoas pobres, que cresceram economicamente e se tornaram líderes e poderosos. 

Partidos e Imprensa
A segunda metade do século XIX foi de agitação política. A nível nacional, surgem os partidos Liberal e Conservador. Em Alagoas, foram criados os Luzias e Saquaremas, instalados durante a presidência de José Bento da Cunha Figueiredo. 

O partido dos Luzias, utilizava-se do jornal O Tempo, para alimentar a sua política, com idéias defendidas através de ataques ao presidente. Os Saquaremas, tinham o jornal Timbre Alagoano, atacando o partido oposicionista.

Na presidência de Pereira de Alencastro, esses dois partidos se dividiram. Os Luzias, formaram o Partido Progressista e o partido Histórico. Esse último coligou-se pouco tempo depois aos Saquaremas. Antes da Abolição da Escravidão, Alagoas já estava na luta por esse objetivo. Em setembro de 1881, foi instalada a Sociedade Libertadora Alagoana, que marcou época. Detinha dois jornais: O Lincoln e o Gutemberg, ambos engajados na luta pelo fim da escravidão. 

O ideal republicano começou a surgir com o jornal O Apóstolo, em 1871. Depois surgiu A República. Em 1888, o jornalista João Gomes Ribeiro fundou o Centro Republicano Federal de Maceió. Um ano depois, é proclamada a República, exatamente por um alagoano. 

A política em Alagoas sempre foi clientelista. Existiam e ainda existem, verdadeiros “curais eleitorais”, onde os chefes políticos mandam e demandam, comprando votos de eleitores pobres e analfabetos. Aos poucos, esse critério vai mudando. Mas ainda deverá demorar muito, para acabar de uma vez por toda com toda a bandalheira que existe em ano eleitoral, onde o dinheiro está acima de tudo. 

No início do século XX, dois irmãos dominaram o governo do Estado, como eleitos pelo povo: Joaquim Paulo e Euclides Vieira Malta, formando o que passou para a História como Oligarquia dos Malta. A família continuou dominando no alto Sertão, elegendo prefeitos e deputados estaduais. Mas, foi se dispersando e a cada eleição, seus candidatos vão sendo derrotados.

Nas décadas de 1930/40, os Góes Monteiro, formaram outra oligarquia. Alagoas passou a ser conhecida como “Alagóes”. Dois irmãos: Ismar de Goes Monteiro e Silvestre Péricles de Goes Monteiro, foram governadores (um, especificamente Interventor, na ditadura de Vargas e o segundo, governador eleito pelo povo). 

Já nos anos 70, 80 e até quase o final de 90, uma outra oligarquia dominou o Estado. Mas não uma familiar e sim, de amigos: Divaldo Suruagy e Guilherme Palmeira. Começaram eleitos indiretamente, durante a ditadura militar. Depois, foram ás urnas e ganharam. Quando não se candidatavam, apresentavam, um candidato, que era facilmente eleito. Só perderam e desapareceram da cena política, nas eleições de 1989. 

Essas oligarquias estão acabando. Os próprios coronéis da política, já se foram. Surgem os emergentes. Alguns de direita, outros de esquerda. São cidadãos que enriqueceram com esforço próprio, na agropecuária, na indústria, no comércio ou na prestação de serviços. Famílias tradicionais da política alagoana, como os Malta, de Mata Grande; Torres, de Água Branca; Bulhões, de Santana do Ipanema; Dantas, de Batalha; Sampaio, de Palmeira dos Índios; Vilela, de Viçosa; Moreira, de Capela; Gomes de Barros, de União dos Palmares, e tantas outras, estão perdendo espaço para novas lideranças políticas. 

O primeiro jornal impresso que surgiu em Alagoas, foi o Iris Alagoense, em 1831, em Maceió, que, ainda não capital da Província. Foi o primeiro passo para o avanço dessa área, com a criação de outros jornais, tanto em Maceió, como em Penedo, Marechal Deodoro e, depois: Viçosa, já na segunda metade do século XIX. Até mesmo nos engenhos, havia a preocupação com a cultura. No Bananal, do coronel Quintiliano Vital, em Viçosa, foi publicado o jornal O Camponês, com notícias envolvendo mais as atividades agrícolas. Seu primeiro número saiu exatamente no dia da Abolição da Escravidão. Seus editores não sabiam desse fato. A notícia chegou depois. 

O jornal mais antigo ainda em circulação (quinzenal), é O Semeador, da Arquidiocese de Maceió, fundado em 1913. O Jornal de Alagoas, circulou durante 85 anos, paralisando suas atividades em 1993. Atualmente o diário mais antigo é a Gazeta de Alagoas, da Organização Arnon de Mello, com 65 anos de existência e o de maior circulação no Estado. 

Funcionam em Maceió neste início de século, três jornais diários: Gazeta de Alagoas, O Jornal e Tribuna de Alagoas, pela ordem os de maior circulação. São cinco emissoras de Televisão: Gazeta (Globo), Pajuçara (SBT), Alagoas (Bandeirantes), Massayó (MTV) e Educativa. São dezenas de rádios AM e FM distribuidas entre a capital e cidades do interior. 

Nepotismo em Alagoas
O nepotismo (emprego público para parentes) é uma prática adotada no Brasil desde o seu descobrimento. Na primeira carta enviada por Péro Vaz de Caminha ao rei de Portugal, depois de vários elogios a nova terra, ele pede um emprego para um parente seu. 

Em Alagoas, logo que foi proclamada a República, essa prática aparece. O presidente Deodoro da Fonseca, nomeia seu irmão Pedro Paulino, para governador. De lá para cá, a prática é tão comum, que os pais já criam os filhos pensando num emprego público, que virá logo que ele complete a maioridade. E há casos até mesmo de falsificação de documentos, aumentando-se a idade, para que esse filho ingresse logo no serviço público e torne-se um marajá. 

Existe nepotismo abertamente, nos três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Famílias inteiras, usufruem do dinheiro público. Quando surge uma denúncia na imprensa, com a relação de integrantes de famílias de deputados, desembargadores, conselheiros do Tribunal de Contas, governadores, secretários de Estados e outras lideranças, o escândalo está formado, mas logo surge outro, esquecendo-se daquele. Ninguém perde um centavo da renda. Continuam marajás, usufruindo das benesses do governo. 

Na Assembléia Legislativa, cada um dos 27 deputados têm direito a 30 assessores. Um escândalo. Os gabinetes não comportam essa quantidade. Trabalham mesmo, no máximo, cinco. Os demais só aparecem no local para receber o cheque-salário. Boa parte desses assessores é formada por irmãos, primos, cunhados, filhos, sobrinhos e demais parentes dos deputados. O mesmo esquema é montado nos Tribunais de Justiça e de Contas. São ao todo, 1.500 funcionários públicos beneficiados com altos salários, que abocanham mais da metade da folha de pagamento. Uma vergonha nacional. 

A bandalheira sempre foi escancarada nas prefeituras do interior, onde os prefeitos empregam parentes nos mais diversos cargos, sem qualquer qualificação profissional. Empregavam. Não empregam mais. A Lei de Responsabilidade Fiscal aprovada pelo Congresso Nacional, de autoria do Executivo, pune os corruptos. Não se pode gastar mais do que arrecada. A torneira está fechada. Não existe dinheiro do governo federal para o que sempre fizeram. Tem que cortar despesas e, muitos já estão demitindo empregados e acabando com certas mordomias. 

Os pioneiros
Na época da colonização, os pioneiros foram: o alemão Cristovão Lins, fundador dos três primeiros engenhos, em Porto Calvo, e o português Antônio de Barros Pimentel, que fundou engenhos nos vales dos rios Camaragibe e Santo Antônio. Depois foram surgindo novas famílias, como os Mendonça, com seus engenhos de açúcar e fazendas de criação de gado. 

Mas só no século XIX, surge a indústria urbana em Alagoas. Em 1859, o Barão de Jaraguá, fundou a primeira fábrica de tecidos: a de Fernão Velho, ainda hoje existente. É o avanço da industrialização em Alagoas. Depois foram surgindo outras fábricas têxteis, como a de Saúde, da família Nogueira (Maceió): Vera Cruz, em São Miguel dos Campos (Contonifício João Nogueira) ainda funcionando: Alexandria, em Maceió, da família Lôbo e outras em Penedo e Pilar. Rio Largo cresceu com o avanço dessa atividade, através do comendador Teixeira Basto (duas fábricas), avançando mais ainda depois da administração do seu genro Gustavo Paiva, um verdadeiro construtor do progresso de Alagoas, que implantou naquela cidade, a mais avançada legislação trabalhista do Estado. Os operários tinham moradia, com conforto e toda infra-estrutura (energia elétrica e água canalizada), escolas de boa qualidade para os filhos; assistência médica; cinema, clube social, quadras de esportes, com piscina (uma novidade na época) e a garantia de salários e dia e todos os benefícios sociais possíveis. 

Outro pioneiro da indústria em Alagoas, foi o português Jacintho Nunes Leite, que estabeleceu-se em Bebedouro (ainda existe o casarão da família, bem preservado). Instalou indústrias (foi proprietário da fábrica de Fernão Velho); Os primeiros bondes da capital; energia elétrica e água canalizada, em Bebedouro e outros benefícios. O bairro, era naquela época (e até as primeiras décadas do século XX) o mais nobre de Maceió. Verdadeiras mansões emolduravam a paisagem que margeava a lagoa de Mundaú, proporcionando um bonito visual aos passageiros do trem que passava pelo local. 

Na última década do século XIX, é a vez das usinas. Já havia sido abolida a escravidão. Os engenhos estavam enfrentando uma grave crise, com os escravos livres, tendo que ser remunerados. Os velhos coronéis abandonavam a atividade, procurando outras mais rentáveis e que empregasse menos gente. 

Em 1891, surge a primeira usina de Alagoas: a Brasileiro, em Atalaia, fundada pelo Barão de Vandesmant, um francês, que apaixonou-se por Alagoas e aqui implantou uma moderna tecnologia, com a usina dispondo de toda a infra-estrutura tecnológica importada da Europa. E, deu um novo perfil a atividade: os trabalhadores passaram a ser operários, com moradia bem estruturada, assistência médica, extensiva aos familiares: legislação trabalhista avançada e aposentadoria. A usina funcionou até 1958. 

Na mesma década de 1890, surge a segunda usina: Leão, no antigo Engenho Utinga, em Rio Largo. A família Amorim Leão, também avança no tempo, implementando um novo estilo de produção, com base no incentivo ao trabalhador. Venceu. Ainda hoje a usina é comandada pela família, já na quinta geração e misturada a família francesa Dubeaux. 

A terceira usina fundada em Alagoas, foi em São José da Laje: Serra Grande, aproveitada de um antigo engenho banguê. O coronel Carlos Benigno Pereira de Lyra, foi outro pioneiro na industrialização alagoana. Pernambucano, fixou-se com a família naquela região e fez História. Dava total assistência aos seus empregados, produzia um açúcar de excelente qualidade, e já com a usina em poder de seu filho, Salvador Lyra, na década de 1930, lançou-se no mercado, o álcool como combustível, com a marca Usga (iniciais da usina). Foram instaladas bombas em São José da Laje, Maceió e Recife. Um sucesso, que incomodou as multinacionais. Com o poder de pressão, esses estrangeiros exigiram do então presidente Getúlio Vargas que acabasse com esse projeto da usina alagoana. Foram atendidos. E o álcool deixou de ser combustível, para só retornar na década de 1970, com a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool), pelo então presidente Ernesto Geisel. 

Também no início do século XX, surge outro verdadeiro pioneiro da indústria em Alagoas: o cearense Delmiro Gouveia, que havia saído do Recife, depois que provocou muita confusão por lá, fruto de sua audácia, inteligência e criatividade, que incomodavam os empresários e políticos locais. Lá, na capital pernambucana, ele fundou o Mercado do Derby, uma espécie de shopping center do século XIX. Desembarcando em Penedo, navegou rio acima até chegar próximo à Cachoeira de Paulo Afonso, encantando-se com a paisagem e resolvido ficar. Bem próximo, no povoado Pedra, fundou a primeira fábrica têxtil do Sertão alagoano. Também incomodou os estrangeiros, já que concorria com a linha Corrente (inglesa). Implantou uma verdadeira revolução industrial em plena região da seca. Venceu. Pedra tornou-se uma cidade industrial, com a vila operária e toda a infra-estrutura moderna, onde os operários eram bem tratados pelo patrão, recebendo toda assistência social possível. Luz elétrica, um avanço no início do século XX. Nem a capital dispunha desse benefício. E Delmiro levou a energia elétrica a Pedra, através da Cachoeira de Paulo Afonso, onde ele fundou a primeira Hidrelétrica do Nordeste, hoje ainda esbanjando progresso e tecnologia. Foi assassinado em 10 de outubro de 1917, quando lia jornal na varanda de seu chalé. O crime chocou Pedra e todo o Sertão alagoano. Dois suspeitos, foram presos (ex-empregados da fábrica). Mas a dúvida continuava. Ninguém achava que fossem aqueles pobres coitados, admiradores do ex-patrão e até compadres. Tinha “costa quente” por trás de tudo. Mas foram esses ex-operários que pagaram a conta. Um morreu na cadeia e o outro ficou até o fim da sua pena. Mas a família nunca se conformou e reabriu o processo, já depois dele morto. Venceu. Foi a primeira sentença pós-morte, onde o culpado foi julgado inocente. Coisas de Alagoas mesmo. 

A fábrica de Delmiro Gouveia passou por vários donos. Na década de 1980, chegou ao estágio de pré-falência, levando o proprietário ao suicídio. Mas, recuperou-se. Foi adquirida pelo empresário Carlos Lyra, e hoje é uma das mais modernas do país. 

A Era Vargas
Quando o Brasil foi sacudido pela Revolução de 1930, levando o gaúcho Getúlio Vargas ao poder, Alagoas era governada por Álvaro Paes. A agitação política se restringia mais as grandes cidades. Inicia-se a fase dos interventores nomeados pelo presidente da República. Foram nove, em 15 anos da Era Vargas, que exerciam o cargo obedecendo as decisões do chefe da Nação. 

O primeiro desses interventores foi o sergipano Hermílio de Freitas Melro, que passou um ano no poder, sendo substituido por Luiz de França Albuquerque, alagoano de Viçosa, seguido do capitão Tasso Tinoco, Afonso de Carvalho e Temístocles Vieira de Azevedo. As eleições para deputados são realizadas em 1933, elegendo-se seis alagoanos: Manoel de Goes Monteiro, Izidro Teixeira de Vasconcelos, José Afonso Valente de Lima, Antonio de Melo Machado, Armando Sampaio Costa e Álvaro Guedes Nogueira, representantes do Estado, na Assembléia Constituinte, que promulgou a Constituição de 1934. 

Quem mais se destacou como interventor, foi o jurista Osman Loureiro, também eleito governador nas eleições de 1935, permanecendo no cargo até 1937 quando deu-se o Golpe do Estado Novo. Nesse período de dois anos, como representante eleito pelo povo, fez várias obras e liberou recursos para as áreas de educação, saúde e segurança pública. Depois, já na ditadura, voltou a ser interventor. 

Passaram ainda pela interventoria: José Maria Correia das Neves, Ismar de Goes Monteiro e Antonio Guedes de Miranda. Acaba assim a Era Vargas em Alagoas, iniciando-se o processo de redemocratização, com as eleições gerais de 1946. 

A ditadura de Vargas provocou muitas prisões de alagoanos, que defendiam a democracia. O escritor Graciliano Ramos, já famoso na época, foi preso no Rio de Janeiro. Esse episódio, gerou o livro Memórias do Cárcere, um best-seller. 

Apesar da ditadura, o povo adorava Getúlio, que implantou a Legislação Trabalhista, criou o salário mínimo (muito valorizado na época) e o voto da mulher. Alagoas viveu nas interventorias, satisfatoriamente. No Estado Novo não existia Congresso nem Assembléia. Portanto, gastos com deputados e senadores não era preocupação do governo. A arrecadação servia para pagar suficientemente os salários dos funcionários públicos.
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